Eu temia teu vazio em minha essência.
Tua partida a tornar o olhar escuro.
E julgava sepulcral a tua ausência
antes mesmo de me pores neste apuro.
Mas a tua covardia mais gritava:
nem amavas, nem mandavas que eu me fosse.
E o amor que viveria defuntava
em teu descuido sombrio, descaso doce.
Até que em mim tu mataste nosso amor
[te suicidasse enfim com tua partida].
E eu que achava que cultivaria dor
recebi a tua morte e fiquei pasma:
acendi velas a ti, eu destemida
e foste tu quem temeste meu fantasma!
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009
Soneto da Infidelidade
Observa. Eu te amo por ter te traído.
Por não sermos felizes nem sermos iguais.
Por pena de ti, e saber não ter havido
a fidelidade. Dívida, nada mais.
Amo-te pelo meu auto-perdão, enfim,
de [minha] tal imoralidade egoísta.
Aqui ainda egoísmo: amor a mim.
Querer cruel e infiel e narcisista.
É amor por circunstância, é compaixão.
Amor sem escrúpulos. Elo decadente.
Servo da possibilidade de perdão.
Amor de livramento. Busca a solidão
em paz. Interesse próprio. Esteja crente:
se pensas que há dignidade, ilusão!
Por não sermos felizes nem sermos iguais.
Por pena de ti, e saber não ter havido
a fidelidade. Dívida, nada mais.
Amo-te pelo meu auto-perdão, enfim,
de [minha] tal imoralidade egoísta.
Aqui ainda egoísmo: amor a mim.
Querer cruel e infiel e narcisista.
É amor por circunstância, é compaixão.
Amor sem escrúpulos. Elo decadente.
Servo da possibilidade de perdão.
Amor de livramento. Busca a solidão
em paz. Interesse próprio. Esteja crente:
se pensas que há dignidade, ilusão!
domingo, 25 de janeiro de 2009
Divagando sobre sonhos
(Carta a um Transeunte do Sul)
Eu não posso saber de que forma o mundo funciona. Não consigo.
Quando eu deito e durmo, certas noites eu sonho porque minha alma vaga pelo mundo que está afora de mim. Noutras, sonho porque ela passeia pelo mundo que sou.
Acredito que alguns sonhos são encontros espirituais.
Outros são simples reflexos meus, quando me permito compreender melhor o que sou.
O que sei é que às vezes eu tento me burlar e me concentro em algo especial, para ver se minha viagem onírica permeia os mundos que desejo e nem sempre alcanço.
Tanto, que ao final termino confundindo o que criei acordada com o que vivi dormindo.
Ou, de tanto tentar, algumas noites passo sem sonhos.
Como se eu sabotasse a fraude que armo contra mim mesma.
E findo numa noite vazia, enquanto os olhos estão cerrados.
Com tudo isso, eu não posso saber de que forma o mundo funciona.
Mas consigo sentir que ele é mágico.
Aí pergunto se há discrepância entre o que se vive dormindo e o que se vive acordado.
E quantos encontros não tive enquanto dormia; nessas noites vazias que meu corpo é pequeno demais para lembrar o que houve.
Em alguns momentos eu creio que foi minha alma que arrumou um meio de me trazer a pessoa de luz que você é, enquanto eu permanecia desacordada.
E me questiono se, depois que te conheci, corpo, ela foi te visitar novamente.
Porque consigo guardar, com detalhes, a essência de sua forma de mexer quando sorriu ao meu lado.
E do brilho infantil dos olhos que me deste, por breve tempo.
Sabe-se lá quantos seres de luz e paz há espalhados por aí.
Mas é impossível não desejar reencontros com os já achados; ou não dedicar uns minutos – noites alternadas em ritmos mil – àquela concentração. Como quem quisesse convencer a alma para que lado andar quando estiver solta.
Mas quando ela está solta, ela está solta. [E essa é uma redundância necessária.]
Ainda não posso mandar na minha alma enquanto durmo.
Minha criatividade infantil, desamarrada, me faz ver minha alma chegando onde estiver a sua, só para gerar uma luz maior. Não para absorver, mas para estabelecer um contato que faça ambas se tornarem mais claras.
Eu não posso ter certeza das minhas crenças e sonhos.
E toda essa divagação sobre almas e corpos – como se pudéssemos os dividir – termina sendo apenas poética. Ou acolhedora. Uma forma de conforto.
Então, como ainda sou um corpo, te componho um texto palpável, com o que sou, faço, penso... Para assegurar que nossa existência é real, e concomitante.
Para alcançar você de alguma forma, num tempo que não seja só memória.
Eu não posso saber de que forma o mundo funciona. Não consigo.
Quando eu deito e durmo, certas noites eu sonho porque minha alma vaga pelo mundo que está afora de mim. Noutras, sonho porque ela passeia pelo mundo que sou.
Acredito que alguns sonhos são encontros espirituais.
Outros são simples reflexos meus, quando me permito compreender melhor o que sou.
O que sei é que às vezes eu tento me burlar e me concentro em algo especial, para ver se minha viagem onírica permeia os mundos que desejo e nem sempre alcanço.
Tanto, que ao final termino confundindo o que criei acordada com o que vivi dormindo.
Ou, de tanto tentar, algumas noites passo sem sonhos.
Como se eu sabotasse a fraude que armo contra mim mesma.
E findo numa noite vazia, enquanto os olhos estão cerrados.
Com tudo isso, eu não posso saber de que forma o mundo funciona.
Mas consigo sentir que ele é mágico.
Aí pergunto se há discrepância entre o que se vive dormindo e o que se vive acordado.
E quantos encontros não tive enquanto dormia; nessas noites vazias que meu corpo é pequeno demais para lembrar o que houve.
Em alguns momentos eu creio que foi minha alma que arrumou um meio de me trazer a pessoa de luz que você é, enquanto eu permanecia desacordada.
E me questiono se, depois que te conheci, corpo, ela foi te visitar novamente.
Porque consigo guardar, com detalhes, a essência de sua forma de mexer quando sorriu ao meu lado.
E do brilho infantil dos olhos que me deste, por breve tempo.
Sabe-se lá quantos seres de luz e paz há espalhados por aí.
Mas é impossível não desejar reencontros com os já achados; ou não dedicar uns minutos – noites alternadas em ritmos mil – àquela concentração. Como quem quisesse convencer a alma para que lado andar quando estiver solta.
Mas quando ela está solta, ela está solta. [E essa é uma redundância necessária.]
Ainda não posso mandar na minha alma enquanto durmo.
Minha criatividade infantil, desamarrada, me faz ver minha alma chegando onde estiver a sua, só para gerar uma luz maior. Não para absorver, mas para estabelecer um contato que faça ambas se tornarem mais claras.
Eu não posso ter certeza das minhas crenças e sonhos.
E toda essa divagação sobre almas e corpos – como se pudéssemos os dividir – termina sendo apenas poética. Ou acolhedora. Uma forma de conforto.
Então, como ainda sou um corpo, te componho um texto palpável, com o que sou, faço, penso... Para assegurar que nossa existência é real, e concomitante.
Para alcançar você de alguma forma, num tempo que não seja só memória.
terça-feira, 16 de dezembro de 2008
Garrafa no mar...
De frente para garrafa no mar...
Marejando o instante que existe entre o abrir e o soterrar.
Marejando uma garrafa no mar...
Reticenciando.
para esquecer de uma vez...
Sem saber se enterra para nunca mais ou responde palavras a errar
na imensidão da distância...
Sabendo da garrafa. Somente.
Estatuando em seu alcance, sem palavras a publicar...
De frente para garrafa no mar...
Marejando o instante que existe entre o abrir e o enterrar.
A garrafa, sempre a garrafa...
Talvez somente ela pudesse vir assim fazer calar...
para esquecer de uma vez...
Garrafa traiçoeira memorando o tanto que havia a proferir
e justo pelo tanto, ensinando que é melhor quietar...
Em meio a multidões de idéias e textos e rimas
Uma garrafa, somente, catalisando o silenciar...
De frente para garrafa no mar...
Marejando o instante que existe entre o abrir e o soterrar.
Marejando o instante que existe entre o abrir e o soterrar.
Marejando uma garrafa no mar...
Reticenciando.
para esquecer de uma vez...
Sem saber se enterra para nunca mais ou responde palavras a errar
na imensidão da distância...
Sabendo da garrafa. Somente.
Estatuando em seu alcance, sem palavras a publicar...
De frente para garrafa no mar...
Marejando o instante que existe entre o abrir e o enterrar.
A garrafa, sempre a garrafa...
Talvez somente ela pudesse vir assim fazer calar...
para esquecer de uma vez...
Garrafa traiçoeira memorando o tanto que havia a proferir
e justo pelo tanto, ensinando que é melhor quietar...
Em meio a multidões de idéias e textos e rimas
Uma garrafa, somente, catalisando o silenciar...
De frente para garrafa no mar...
Marejando o instante que existe entre o abrir e o soterrar.
domingo, 7 de dezembro de 2008
Canção de amigo
Se negasse meu desejo de tua pele
(Reencontro com meu corpo ouriçado
Alcançando meu instinto camuflado
Entre medos – que a cada um repele;
o gosto quente de áurea, de tua alma
Num encontro: nossas bocas palpitantes
Em trocas de respirações delirantes
Beijo aceso onde reside viva a calma)
Estaria a te negar, meu bom amigo
As muralhas que venceste. Então te digo
(réu confesso dos desejos abundantes)
Querer sentir novamente o toque teu
Que abriu tranquilamente o corpo meu
A calor de proporções estonteantes!
texto de 02.11.07
(Reencontro com meu corpo ouriçado
Alcançando meu instinto camuflado
Entre medos – que a cada um repele;
o gosto quente de áurea, de tua alma
Num encontro: nossas bocas palpitantes
Em trocas de respirações delirantes
Beijo aceso onde reside viva a calma)
Estaria a te negar, meu bom amigo
As muralhas que venceste. Então te digo
(réu confesso dos desejos abundantes)
Querer sentir novamente o toque teu
Que abriu tranquilamente o corpo meu
A calor de proporções estonteantes!
texto de 02.11.07
Paixão não é flor fertilizada
Paixão não é flor fertilizada
esperando calmamente o sumo e o sol
para se transformar em fruto maduro.
A paixão deseja tempestade fertilizante do inseto
mesmo que a flor se despetale fugazmente num apuro.
Paixão é um anseio constante da planta no cio:
um querer incessante e vívido
pela gravidez de companhia.
É não desejar o carma da casta flor numa noite fria
ao término de linda primavera
despetalando todos os sonhos de perenidade.
Não. Paixões não são flores com serenidade
em plena calmaria da madrugada.
Paixão é planta no cio, é desejo.
É medo constante do provável vazio
e sagacidade do instante contra qualquer segundo frio.
esperando calmamente o sumo e o sol
para se transformar em fruto maduro.
A paixão deseja tempestade fertilizante do inseto
mesmo que a flor se despetale fugazmente num apuro.
Paixão é um anseio constante da planta no cio:
um querer incessante e vívido
pela gravidez de companhia.
É não desejar o carma da casta flor numa noite fria
ao término de linda primavera
despetalando todos os sonhos de perenidade.
Não. Paixões não são flores com serenidade
em plena calmaria da madrugada.
Paixão é planta no cio, é desejo.
É medo constante do provável vazio
e sagacidade do instante contra qualquer segundo frio.
Translúcidas Lentes
Gado monocromático.
Cinza tosco da cidade.
O verde pasto.
Amarelo solar do redondo astro.
Seu branco reflexo na nuvem.
Azul de verão.
Não. Não se esconda das cores assim em vão,
sob um óculos escuros sorumbático
nefasto funesto monocromático.
Gado reflexo.
Cinza solar da cidade.
Amarelo pasto.
A nuvem recompondo aquele fosco.
Vai vem de azul.
E o diário redondo astro.
Cinza tosco da cidade.
O verde pasto.
Amarelo solar do redondo astro.
Seu branco reflexo na nuvem.
Azul de verão.
Não. Não se esconda das cores assim em vão,
sob um óculos escuros sorumbático
nefasto funesto monocromático.
Gado reflexo.
Cinza solar da cidade.
Amarelo pasto.
A nuvem recompondo aquele fosco.
Vai vem de azul.
E o diário redondo astro.
Assinar:
Postagens (Atom)