segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Alguma coisa de dentro pra fora

Alguma coisa de dentro
Pra fora

Da junção dos segundos
A hora

Do sonhar com o futuro
Pro agora

Para não esperar
Ir embora

Alguma coisa de dentro
Pra fora

É o romper de um tempo
Em aurora

Fuga

Se pudesse surtar
correria
ao encontro do nada
o lugar nenhum

se pudesse surtar
uma busca voada
por sentimento algum
e ninguém

morte aos laços
aos partos
espaços
e a vida em si

morte ao ter de ser
e ao sentir

sem frio
calor
crença
ou canto

solto
sem gravidade

nem eterna presença
nem saudade

sem sombra
sem gente
sem vento

nem texto
nem tato
nem tento

incabível ao meu pensamento.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Dança

dedico a Polly Monteiro, a professora de
dança mais humana que meu universo conhece.

Nenhum corpo que dança fenece
Todo corpo que cresce se move
Tudo ocorre num corpo que mexe
O estanque é a vida que morre
Uma rija estrutura padece
Movimento é um deus que promove
Movimento é um tipo de prece
Movimento é um deus que socorre
Descontínuo que desaparece
Movimento é um corpo que explode
Cinestésico corpo que ocorre
A certeza que o mundo renove
Todo corpo que cresce se move
Nenhum corpo que dança padece.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Fluxo fértil

Todo fluxo fértil
Despertando fluxos outros
Sanguíneo cíclico
Energético.

Todo fluxo fértil
Do umbigo acima
Barriga costelas
Respiração corrida
Suspensa suspira completa

Todo fluxo sanguíneo
Agitado fluido convulso

Todo fluxo fértil
Do umbigo à superfície
Pele textura cheiro
Toque temperatura

Todo fluxo sanguíneo
Do peito às partes
Cintura costas colunas
curva dança movimento

Todo fluxo sanguíneo
E todo fluxo fértil
Por todo o corpo

Braços ombros pescoço
Seios vozes rosto

Todo fluxo fértil
Do umbigo abaixo
Pêlos pernas púbis

E do umbigo adentro
No sexo.

Bolhas ao sol

Quando você sonha
Eu flutuo
Bolhas de sabão

Suspensas
Soltas
Cheias
Fluidas

Reflexa
De luz solar

Quando você sonha
Eu me refrato luminosa
Coloridos arco-íris

Nos meus ares afora...

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

meu deus,
está tudo errado

trocado
torcido
invertido
troncho

travado
trincado
quebrado
triste

está tudo murcho

miongo
macambúzio
melancólico
magoado

sorumbático
depressivo
abatido
monocromático

e ainda estático

nem um vento
nem um sopro
nem um susto
nem um santo

sem reza
sem crença
sem vida
sem porto

meu deus,
está tudo torto

destroçado
falecido
dilacerado
roto

defunto
finado
cadáver
morto.

Descontínua presença

Dói no recorte.
No descontínuo.
Na parte que parte
num só.

Um inteiro, um partido.
Um dia bom,
vinte a dó.

Dói cada vez que teu corpo vira pó de saudade
no meu redor de existência.
No retalho.

Cada beijo não dado.
Cada abraço sonhado.
Toda ausência.

O contraste tristonho
com as felizes presenças.
Intercaladas lacunas.

Trechos suspensos
pelos contínuos vindouros.

É no arremate.
No momentâneo.
Na junta que junta.
No nó

feito e apertado no encontro
para não deslizar na distância
em desenlace.

Dói a noite de frio.
O acordar vazio
depois que me veio.

E reinicio
pedaços de fios com amarração
de sonhos cheios.