sábado, 4 de junho de 2016

Leitos de Rios

Todo rio começa e termina
Cada um tem seu curso
Diversos os percursos.
Entrecruzam confluentes
Água do leito e sina.

Tem rio que vai transparente
Claro, reluz cristalino
Parece espelhar o divino.
Entre retas, quedas e curvas
Leitos brilhando no sempre.

Outros são águas turvas
Mexidos, cheios de chão
Densos por onde estão.
É terra que sofre e urra
A distância do céu, em vão.

Alguns são longas estradas
E guardam muita história
Metros e metros de memória.
Distâncias acumuladas
No leito com gosto de glória.

Há também o pequenino
De porte curto e estreito
Com pouca força em seu peito.
Pequenos rios na vida
Com gosto de despedida.

E seguem nossos leitos
Cada um começa e termina
Todo ele em seu caminho. 
Tanto rio, tanta água
Nesta fluente jornada.

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Nascente

Vive a terra bem quieta
Movendo-se cautelosa
Tanto mistério escuro
Abaixo dos pés repousa
 
Quase dormem no espaço
Se arrastando lentamente
Silenciosas no tempo
Terra, rocha e semente
 
Nas profundezas do solo
Onde a luz já não se mira
Quase tudo se assenta
Mas algo remexe e revira
 
Nessa entranha bem densa
Onde tudo tende ao rijo
Abre espaço um movimento
Vai deixando o esconderijo
 
Borbulhando terra afora
Água limpa e transparente
Vindo lá do frio escuro
Se apresenta clara e quente
 
Revirando as profundezas
E se fazendo latente
Pulsando superfície afora
Inesgotável nascente


 

Obra sobre Ruínas


 

Feridas abertas onde não se enxerga
São os olhares duvidando que um dia se erga
A paisagem virada da tempestade passada
O ontem gritando na presente caminhada
Outros tempos, no hoje, através dos escombros
O passado pesando sobre os frágeis ombros
O que se foi grudado no que se é agora
Contínuo indesejável, tempos afora
Peso da lagarta na leve borboleta
E o desejo perene que se esqueça
Qualquer coisa velha que cheira a mofo
E nada adianta todo esforço
A paisagem sombria com o pó de demolição
Sujando as paredes da nova construção
Suja de ontem. Suja de entulho
Por anos a fio. Julho a julho
Cruzando os tempos, restos e sinas
Como planejar a obra sobre as ruínas?


(texto de novembro de 2015)

sábado, 5 de setembro de 2015

Quem me dera, ipê



Nesse intenso inverno
quem me dera ser
uma bela árvore de ipê.

Ao sopro do vento forte
suster em galho e flor.
O peso do sóbrio chão;
a leveza da vivaz cor.

E nas profundezas, raiz. Firme.
Hasteando tronco ao céu. Tanto.
Para a flor refletir, do cosmo,
o encanto.

Essa bela árvore, o ipê,
nesse intenso inverno
quem me dera ser.  

Do tronco, passado,
o rijo e a morte.

Das flores, futuro,
a vida e a sorte.

A raiz, oculta,
mistério e aporte.

Até a primavera (folhas no agora)
clarear, presente, apontando o norte.


sexta-feira, 6 de março de 2015

Iniciação


Intuição,
muitos segredos.
Foi recado do cosmos,
ou invenção de meus medos?
 
 
Sonhos,
recados no agora.
Imerso no centro,
ou disperso lá fora?
 
 
Iniciação,
complexa realidade.
Como ser no mundo
com tanta responsabilidade?

 

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Ao Sol


Orbito.
Atraída como imã
ao redor de teu centro.
Vou te seguindo pelo tempo.

Orbito.
Terra vencida,
sem força a negar teu redor
Sentindo-te tão maior

Orbito.
Em teu trajeto
vou grata. À tua volta
venerando nossa rota.

Orbito.
Tu que iluminas
tudo mais que te cerca.
Sem esperar que te peça.

Orbito.
Essa luz difusa
que encandeia as atmosferas.
Orbito. Sem saber bem quantas eras.

Tato

Tato.

O que é o outro?
O que sou eu, de fato?

Tato.

A necessidade suprema
de tanto contato.

Tato. Toque.

Um pouco mais de mim
no enfoque