terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Garrafa no mar...

De frente para garrafa no mar...
Marejando o instante que existe entre o abrir e o soterrar.


Marejando uma garrafa no mar...
Reticenciando.

para esquecer de uma vez...

Sem saber se enterra para nunca mais ou responde palavras a errar
na imensidão da distância...

Sabendo da garrafa. Somente.
Estatuando em seu alcance, sem palavras a publicar...

De frente para garrafa no mar...
Marejando o instante que existe entre o abrir e o enterrar.


A garrafa, sempre a garrafa...
Talvez somente ela pudesse vir assim fazer calar...

para esquecer de uma vez...

Garrafa traiçoeira memorando o tanto que havia a proferir
e justo pelo tanto, ensinando que é melhor quietar...

Em meio a multidões de idéias e textos e rimas
Uma garrafa, somente, catalisando o silenciar...

De frente para garrafa no mar...
Marejando o instante que existe entre o abrir e o soterrar.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Canção de amigo

Se negasse meu desejo de tua pele
(Reencontro com meu corpo ouriçado
Alcançando meu instinto camuflado
Entre medos – que a cada um repele;

o gosto quente de áurea, de tua alma
Num encontro: nossas bocas palpitantes
Em trocas de respirações delirantes
Beijo aceso onde reside viva a calma)

Estaria a te negar, meu bom amigo
As muralhas que venceste. Então te digo
(réu confesso dos desejos abundantes)

Querer sentir novamente o toque teu
Que abriu tranquilamente o corpo meu
A calor de proporções estonteantes!

texto de 02.11.07

Paixão não é flor fertilizada

Paixão não é flor fertilizada
esperando calmamente o sumo e o sol
para se transformar em fruto maduro.

A paixão deseja tempestade fertilizante do inseto
mesmo que a flor se despetale fugazmente num apuro.

Paixão é um anseio constante da planta no cio:
um querer incessante e vívido
pela gravidez de companhia.

É não desejar o carma da casta flor numa noite fria
ao término de linda primavera
despetalando todos os sonhos de perenidade.

Não. Paixões não são flores com serenidade
em plena calmaria da madrugada.

Paixão é planta no cio, é desejo.
É medo constante do provável vazio
e sagacidade do instante contra qualquer segundo frio.

Translúcidas Lentes

Gado monocromático.
Cinza tosco da cidade.
O verde pasto.
Amarelo solar do redondo astro.
Seu branco reflexo na nuvem.
Azul de verão.

Não. Não se esconda das cores assim em vão,
sob um óculos escuros sorumbático
nefasto funesto monocromático.

Gado reflexo.
Cinza solar da cidade.
Amarelo pasto.
A nuvem recompondo aquele fosco.
Vai vem de azul.
E o diário redondo astro.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Prisma

O verde era o mais bonito
Na época em que os pais e os amores valiam mais que a coloração de ser

Mas desbotou o tempo...
E os momentos espalharam aquarelas...
Deslocaram-se as matizes primarias que residiam nos amores.
E os pais deixaram de ter o tom da verdade absoluta.

A luz incidiu e as cores se tornaram tantas
Que a solidão do verde se tornou sorumbática.

Quando um dia eu nascer uma árvore

Quando um dia eu nascer uma árvore
Talvez o céu não pareça tão distante.
Mas o chão será um dominante, não um dominável.

Para não ser inefável, eu seria um Flamboyant.

Quando um dia eu crescer uma árvore...
O meu mundo será explodido de uma semente
Bastar-me-á água e sol, somente, para felicidade estável.

Para ser explicável: uma chuva e depois um dia quente.

Quando um dia eu viver, como árvore
Dos pássaros, serei sempre ouvinte.
E ainda terei o requinte de me sentir habitável.

Porque o som me será palpável: através do vibrante, tininte.

Quando um dia eu reproduzir como árvore
O mundo será um circular horizonte
E o vento será a minha ponte com o semeável.

No mesmo lugar [estável], farei terras parirem monte.

Quando um dia eu for uma árvore
E morrer. E deixar de ser sombra ao transeunte
A terra fará um ajunte do meu potencial adubável

E na essência permutável terei a certeza que eu não defunte.

domingo, 19 de outubro de 2008

Sobre tristezas, cantos e sonos.

Cada melancolia tem lá seu tono.
Rigidez vai embora com canto.
A cantiga dessa tristeza é o sono.
Se dormir é cantar: acalanto.

Se dormir fosse fácil...

Dormir é fugir do abandono.
É morrer. Morto, sem pranto.
Mesmo que o som seja mono,
dormir é cantar, tem encanto.

...mas dormir não é fácil...

Dormir... não pagar o abono
da tristeza. E mais tanto.
Encanto. Cantiga. E sonho.
Fluidez. Fuga. Acalanto.

...adormecer é difícil, entretanto.