domingo, 18 de outubro de 2009

Senilidade

Vejo a morte rondando em passos surdos
Ouço ela causando os passos lentos

Vão-se os passos da quimera, se apagando
E a espera de morrer: único alento

Sinto as pálpebras cerrando sobre os olhos
É a luz do final que está cegando

Como passos arrastados pelos pés
Vão-se os olhos indo embora, se arrastando

É que acende a luz da morte que já chega
E a luz dos olhos vai morrendo, se afastando

E o corpo da morte se estendendo
ao passo que o em vida, definhando.

Vento

Eu sou vento de outono arrancando as folhas
Para aquela árvore se aperceber
Que arrebato, sopro e sacudo os galhos
Dela. Que se julgava sozinha ao entardecer

Sou vento de agosto, e dispenso ralhos
Para seduzir ao sopro e revolver
Esvoaçar pó dos sonhos aos olhos
E ao invés de cegar, fazer bem ver.

Porque sou vento [pois solto] e que me valha
Enraizar em você meus devaneios
Eu balance com vida as suas galhas
E devaneie por mim os seus anseios.

promessas e sonhos ou ilusões.

Pago promessa pela perenidade
E tu me somes?
Me fizeste juras de eternidade
Que me consomem.

Que promessa é coisa de sempre.
E se não puderes cumprir
Não invente.

Não me suma sem contar da ausência.
Nem me solte sem matar os sonhos.
Que tua promessa se torne demência!
E sofrimento não me seja medonho!

Pago promessa pela perenidade
E me atormentas.
Então me escreva na felicidade
Que te ausentas.

Que sonho não é peça para jogos.
E se não sonhas, some.
Eu rogo.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Amor-aguardo

Para Vinicius, e lembrando de Gabi, Jú, Peter e Danny.


Meu amor - que sinto - é um passo em paz
Meu amor infindo com gosto de mais
Um amor-repouso.

Se o contato de corpos é um quase “jaz”
Não morre não some ao que se faz
Esse amor-aguardo.
E quando a distância se emerge audaz
Vai correr o tempo a extinguir o agraz
E é amor-contínuo.

E a estação socorre em chispar, fugaz
Para que logo chegue o amor-voraz
De um amor-encontro.
De um amor-instinto, [mas também razão]
De um amor-faminto, amor-paixão
De um amor-loquaz.

sábado, 22 de agosto de 2009

Todo amor deixa um gosto na boca

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Todo amor deixa um gosto na boca.

Se o amor é manso e perene
Sua doçura é um flash de sempre.
E deixa um gosto de vício.
De nostalgia. Suspiro eterno.

Amor com um gosto materno.

Se o amor é fútil e vulgar
O gosto é cortante e cruel.
De fome, de estômago vazio.
Dia amanhecido doente.

Amor com sabor de acidente.

E se nem é amor, também sápido
Gosto de nojo e de asco
De beijo dado sem passo.
Malogro. E de traço torto.

É amor com gosto de aborto.

Contra-força à castidade

Se desejas castidade não te afobes
Nem permitas um só gole de desejo
Que a volúpia é amiga do ensejo
E devora a tua pele como hobby.

Se concedes a um poro o arrepio
Abres todos à volúpia mais mundana
Que a lascívia é do corpo soberana
E o prazer é compulsivo como o vício

Se desejas castidade, nem te toques
Um desvio da postura é teu derroque
Nem te dispas, nem sequer ouse pensar

Um segundo e o desejo reinará:
Breve o que houver de frio vai ferver
E te entregarás ao cio até morrer.

Canalhas e Idiotas

Nessa vida há canalhas e idiotas
E cuidado meninas, é diferente.
O idiota é um estúpido supérfluo
O canalha é um amor, mas fugazmente.

Um canalha que se preze nem tem fama
Ou se tem, bem se faz de displicente.
Já o idiota nem merece comentários
Nunca dê um quê de prosa ao impudente.

O canalha sabe achar o bom da alma
E amar o mundo todo intensamente.
Não se volta ao seu umbigo pequenino
Expande-se aos contatos – corpo e mente.

O bom canalha, calhorda, safado
Sabe bem o que fazer, quando com a gente.
E por mais que xinguemos, blasfememos
Nos carrega e deixa tudo mais contente.

Aconselho que se façam bem atentas.
Apesar de serem ambos sorridentes,
Em um deles tudo é falso e rude e tosco.
Já no outro é passageiro, mas luzente.

Então lembrem-se bem, caras meninas
Apesar de parecidos: diferentes.
Olhe bem nos olhos de cada safado
E siga apenas com aqueles reluzentes.