domingo, 30 de junho de 2019

Entre andarilhos

uns versinhos achados no meio de escritos antigos. 
coisa de outros tempos. 

Eu não posso que você me ame.
Ou logo passo do casto
ao ardente infame.

Nem posso que você me toque.
Minha pele repousada
se ouriça em estado de choque.

Menos posso quando tu me miras.
Toda força que emano
de súbito se retira.

segunda-feira, 24 de junho de 2019

Espelho



Tem dia que o mundo acorda
Feio, torto e pelo avesso
Pedra, planta, bicho e gente
Só traz trapaça e tropeço.

Depois de resmungar com tudo
Que me cerca e que circundo
É que eu noto, de repente,
Que eu que tou de mal com o mundo.

terça-feira, 11 de junho de 2019

Incidente



A água era só água do mar
virou onda e na praia quebrou.
Penetrou areia, borrifou o ar
tornando-se, de si mesma, alheia.

Quando seu inteiro se espalhou
e o puro em si foi dispersar
perguntou-se, então, “o que sou agora”?

Da pergunta turva veio clarear
o impulso novo que tornou-a cheia:
fez-se solta e plena mundo afora
tanto ainda água, como ar e areia.

segunda-feira, 3 de junho de 2019

Iluminação

para Angelus 
A noite era escura, não se sabia
foi quando do poente
iniciou-se fina passagem.

A luz lambeu a neblina que cobria
e vagarosamente
moveu-se leve a paisagem.

Horizonte afora, a névoa luzia
esplendorosamente
o dia se descortinou em miragem.

Se foi noite, agora tudo se via
em tom e cor ardente
a alma exalou sol em seu traje.

03.06.19

domingo, 5 de novembro de 2017

Haicais de estação

ou Para Bordar. 
para minha querida Fátima Pombo, que tem os mais lindos bordados do mundo. 


O verde esborra
Como fonte na paisagem.
Primavera jorra!

                            Tudo sobe vivo:
                            Caule, folha, flor, inseto.
                            Verão colorido!

No outono forte
         Tudo começa a cair...
     Do verão, a morte.

                                                                   Pedra, pau e bicho.
                                                                      Tudo repousa calado.
                                                               O inverno é rijo. 

domingo, 19 de março de 2017

Ouriço do mar




Ouriço do mar no coral
Submerso, rasteiro e denso
Pouco se move, em geral
E quando move, anda lento

Vai cauteloso e mergulhado
Se escondendo no escuro
Esconde o que há guardado
Na crosta de espinho duro

Ouriço do mar espinhento
Parece até perigoso
Mas tem é um medo imenso
Do que há afora do alojo

O espinho é só escudo
Recurso de frágil soldado
Pois guarda sutil conteúdo
Por dentro de osso delgado

Ouriço do mar no coral
Espeta e fere com espinho
Quisera não fazer mal
E ter por escudo o carinho. 




Flor dada

Flor dada,
brotada
ao vento.


Flor viva:
lascívia
e intento. 


Se ausência: 
carência
e lamento.


Se inseto:
amor certo
e alento. 



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