domingo, 25 de janeiro de 2009

Divagando sobre sonhos

(Carta a um Transeunte do Sul)

Eu não posso saber de que forma o mundo funciona. Não consigo.

Quando eu deito e durmo, certas noites eu sonho porque minha alma vaga pelo mundo que está afora de mim. Noutras, sonho porque ela passeia pelo mundo que sou.

Acredito que alguns sonhos são encontros espirituais.
Outros são simples reflexos meus, quando me permito compreender melhor o que sou.

O que sei é que às vezes eu tento me burlar e me concentro em algo especial, para ver se minha viagem onírica permeia os mundos que desejo e nem sempre alcanço.

Tanto, que ao final termino confundindo o que criei acordada com o que vivi dormindo.

Ou, de tanto tentar, algumas noites passo sem sonhos.
Como se eu sabotasse a fraude que armo contra mim mesma.
E findo numa noite vazia, enquanto os olhos estão cerrados.

Com tudo isso, eu não posso saber de que forma o mundo funciona.
Mas consigo sentir que ele é mágico.

Aí pergunto se há discrepância entre o que se vive dormindo e o que se vive acordado.
E quantos encontros não tive enquanto dormia; nessas noites vazias que meu corpo é pequeno demais para lembrar o que houve.

Em alguns momentos eu creio que foi minha alma que arrumou um meio de me trazer a pessoa de luz que você é, enquanto eu permanecia desacordada.

E me questiono se, depois que te conheci, corpo, ela foi te visitar novamente.
Porque consigo guardar, com detalhes, a essência de sua forma de mexer quando sorriu ao meu lado.
E do brilho infantil dos olhos que me deste, por breve tempo.

Sabe-se lá quantos seres de luz e paz há espalhados por aí.
Mas é impossível não desejar reencontros com os já achados; ou não dedicar uns minutos – noites alternadas em ritmos mil – àquela concentração. Como quem quisesse convencer a alma para que lado andar quando estiver solta.

Mas quando ela está solta, ela está solta. [E essa é uma redundância necessária.]

Ainda não posso mandar na minha alma enquanto durmo.

Minha criatividade infantil, desamarrada, me faz ver minha alma chegando onde estiver a sua, só para gerar uma luz maior. Não para absorver, mas para estabelecer um contato que faça ambas se tornarem mais claras.

Eu não posso ter certeza das minhas crenças e sonhos.
E toda essa divagação sobre almas e corpos – como se pudéssemos os dividir – termina sendo apenas poética. Ou acolhedora. Uma forma de conforto.

Então, como ainda sou um corpo, te componho um texto palpável, com o que sou, faço, penso... Para assegurar que nossa existência é real, e concomitante.

Para alcançar você de alguma forma, num tempo que não seja só memória.