quarta-feira, 4 de maio de 2016

Nascente

Vive a terra bem quieta
Movendo-se cautelosa
Tanto mistério escuro
Abaixo dos pés repousa
 
Quase dormem no espaço
Se arrastando lentamente
Silenciosas no tempo
Terra, rocha e semente
 
Nas profundezas do solo
Onde a luz já não se mira
Quase tudo se assenta
Mas algo remexe e revira
 
Nessa entranha bem densa
Onde tudo tende ao rijo
Abre espaço um movimento
Vai deixando o esconderijo
 
Borbulhando terra afora
Água limpa e transparente
Vindo lá do frio escuro
Se apresenta clara e quente
 
Revirando as profundezas
E se fazendo latente
Pulsando superfície afora
Inesgotável nascente


 

Obra sobre Ruínas


 

Feridas abertas onde não se enxerga
São os olhares duvidando que um dia se erga
A paisagem virada da tempestade passada
O ontem gritando na presente caminhada
Outros tempos, no hoje, através dos escombros
O passado pesando sobre os frágeis ombros
O que se foi grudado no que se é agora
Contínuo indesejável, tempos afora
Peso da lagarta na leve borboleta
E o desejo perene que se esqueça
Qualquer coisa velha que cheira a mofo
E nada adianta todo esforço
A paisagem sombria com o pó de demolição
Sujando as paredes da nova construção
Suja de ontem. Suja de entulho
Por anos a fio. Julho a julho
Cruzando os tempos, restos e sinas
Como planejar a obra sobre as ruínas?


(texto de novembro de 2015)