sábado, 22 de agosto de 2009

Todo amor deixa um gosto na boca

.
Todo amor deixa um gosto na boca.

Se o amor é manso e perene
Sua doçura é um flash de sempre.
E deixa um gosto de vício.
De nostalgia. Suspiro eterno.

Amor com um gosto materno.

Se o amor é fútil e vulgar
O gosto é cortante e cruel.
De fome, de estômago vazio.
Dia amanhecido doente.

Amor com sabor de acidente.

E se nem é amor, também sápido
Gosto de nojo e de asco
De beijo dado sem passo.
Malogro. E de traço torto.

É amor com gosto de aborto.

Contra-força à castidade

Se desejas castidade não te afobes
Nem permitas um só gole de desejo
Que a volúpia é amiga do ensejo
E devora a tua pele como hobby.

Se concedes a um poro o arrepio
Abres todos à volúpia mais mundana
Que a lascívia é do corpo soberana
E o prazer é compulsivo como o vício

Se desejas castidade, nem te toques
Um desvio da postura é teu derroque
Nem te dispas, nem sequer ouse pensar

Um segundo e o desejo reinará:
Breve o que houver de frio vai ferver
E te entregarás ao cio até morrer.

Canalhas e Idiotas

Nessa vida há canalhas e idiotas
E cuidado meninas, é diferente.
O idiota é um estúpido supérfluo
O canalha é um amor, mas fugazmente.

Um canalha que se preze nem tem fama
Ou se tem, bem se faz de displicente.
Já o idiota nem merece comentários
Nunca dê um quê de prosa ao impudente.

O canalha sabe achar o bom da alma
E amar o mundo todo intensamente.
Não se volta ao seu umbigo pequenino
Expande-se aos contatos – corpo e mente.

O bom canalha, calhorda, safado
Sabe bem o que fazer, quando com a gente.
E por mais que xinguemos, blasfememos
Nos carrega e deixa tudo mais contente.

Aconselho que se façam bem atentas.
Apesar de serem ambos sorridentes,
Em um deles tudo é falso e rude e tosco.
Já no outro é passageiro, mas luzente.

Então lembrem-se bem, caras meninas
Apesar de parecidos: diferentes.
Olhe bem nos olhos de cada safado
E siga apenas com aqueles reluzentes.

Sobre tempos e luzes

Se mantivesses diariamente teu ciclo de luz
teus olhos fariam resplandecer o brilho do mundo.
Mas tu sempre corres.

E não resta ao pensamento um só repouso
E por desuso, ou por descaso, a paz falece.

E por não avistares, julgas que teu medo morre
Tristeza morre
E que morre a tua solidão.

Quando matas cada tempo de meditação
[morte à suspensão, intervalo, paz]
Na verdade é tua plenitude quem jaz.

E sob o corpo defuntado tua tristeza se esconde
E se esconde também aquele medo
E se esconde também a solidão.

Todos vivos, camuflados, infiltrados
A esmorecer o teu brilho e o teu dia.

Desperdiças diariamente a cor do mundo, e ela passa vazia.
E o teu mundo corre.
E o teu tempo morre.

E o que resta em teu silêncio são ausências.
E o que resta ao teu silêncio te é medo.

Sabes bem do não-espelho de teus olhos
Escolheste a causa desta conseqüência.

E pergunto-me se te sentes bem feliz
Mas a resposta deve ser [até pra ti]
Um mistério irrevelado, um segredo.