terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Garrafa no mar...

De frente para garrafa no mar...
Marejando o instante que existe entre o abrir e o soterrar.


Marejando uma garrafa no mar...
Reticenciando.

para esquecer de uma vez...

Sem saber se enterra para nunca mais ou responde palavras a errar
na imensidão da distância...

Sabendo da garrafa. Somente.
Estatuando em seu alcance, sem palavras a publicar...

De frente para garrafa no mar...
Marejando o instante que existe entre o abrir e o enterrar.


A garrafa, sempre a garrafa...
Talvez somente ela pudesse vir assim fazer calar...

para esquecer de uma vez...

Garrafa traiçoeira memorando o tanto que havia a proferir
e justo pelo tanto, ensinando que é melhor quietar...

Em meio a multidões de idéias e textos e rimas
Uma garrafa, somente, catalisando o silenciar...

De frente para garrafa no mar...
Marejando o instante que existe entre o abrir e o soterrar.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Canção de amigo

Se negasse meu desejo de tua pele
(Reencontro com meu corpo ouriçado
Alcançando meu instinto camuflado
Entre medos – que a cada um repele;

o gosto quente de áurea, de tua alma
Num encontro: nossas bocas palpitantes
Em trocas de respirações delirantes
Beijo aceso onde reside viva a calma)

Estaria a te negar, meu bom amigo
As muralhas que venceste. Então te digo
(réu confesso dos desejos abundantes)

Querer sentir novamente o toque teu
Que abriu tranquilamente o corpo meu
A calor de proporções estonteantes!

texto de 02.11.07

Paixão não é flor fertilizada

Paixão não é flor fertilizada
esperando calmamente o sumo e o sol
para se transformar em fruto maduro.

A paixão deseja tempestade fertilizante do inseto
mesmo que a flor se despetale fugazmente num apuro.

Paixão é um anseio constante da planta no cio:
um querer incessante e vívido
pela gravidez de companhia.

É não desejar o carma da casta flor numa noite fria
ao término de linda primavera
despetalando todos os sonhos de perenidade.

Não. Paixões não são flores com serenidade
em plena calmaria da madrugada.

Paixão é planta no cio, é desejo.
É medo constante do provável vazio
e sagacidade do instante contra qualquer segundo frio.

Translúcidas Lentes

Gado monocromático.
Cinza tosco da cidade.
O verde pasto.
Amarelo solar do redondo astro.
Seu branco reflexo na nuvem.
Azul de verão.

Não. Não se esconda das cores assim em vão,
sob um óculos escuros sorumbático
nefasto funesto monocromático.

Gado reflexo.
Cinza solar da cidade.
Amarelo pasto.
A nuvem recompondo aquele fosco.
Vai vem de azul.
E o diário redondo astro.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Prisma

O verde era o mais bonito
Na época em que os pais e os amores valiam mais que a coloração de ser

Mas desbotou o tempo...
E os momentos espalharam aquarelas...
Deslocaram-se as matizes primarias que residiam nos amores.
E os pais deixaram de ter o tom da verdade absoluta.

A luz incidiu e as cores se tornaram tantas
Que a solidão do verde se tornou sorumbática.

Quando um dia eu nascer uma árvore

Quando um dia eu nascer uma árvore
Talvez o céu não pareça tão distante.
Mas o chão será um dominante, não um dominável.

Para não ser inefável, eu seria um Flamboyant.

Quando um dia eu crescer uma árvore...
O meu mundo será explodido de uma semente
Bastar-me-á água e sol, somente, para felicidade estável.

Para ser explicável: uma chuva e depois um dia quente.

Quando um dia eu viver, como árvore
Dos pássaros, serei sempre ouvinte.
E ainda terei o requinte de me sentir habitável.

Porque o som me será palpável: através do vibrante, tininte.

Quando um dia eu reproduzir como árvore
O mundo será um circular horizonte
E o vento será a minha ponte com o semeável.

No mesmo lugar [estável], farei terras parirem monte.

Quando um dia eu for uma árvore
E morrer. E deixar de ser sombra ao transeunte
A terra fará um ajunte do meu potencial adubável

E na essência permutável terei a certeza que eu não defunte.

domingo, 19 de outubro de 2008

Sobre tristezas, cantos e sonos.

Cada melancolia tem lá seu tono.
Rigidez vai embora com canto.
A cantiga dessa tristeza é o sono.
Se dormir é cantar: acalanto.

Se dormir fosse fácil...

Dormir é fugir do abandono.
É morrer. Morto, sem pranto.
Mesmo que o som seja mono,
dormir é cantar, tem encanto.

...mas dormir não é fácil...

Dormir... não pagar o abono
da tristeza. E mais tanto.
Encanto. Cantiga. E sonho.
Fluidez. Fuga. Acalanto.

...adormecer é difícil, entretanto.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

As borboletas nunca são achadas

As borboletas nunca são achadas pelas flores.
São elas que escolhem nas quais pousar.
E saem por aí provando
até encontrar o gosto da perenidade...

...e toda flor tem gosto de fugacidade.

As borboletas nunca são pousadas pelas flores.
São elas que escolhem o tempo do namoro
ou o instante de adejar.
E semeiam, a sua escolha, a felicidade...

...e são as flores que ficam com a saudade.

As borboletas nunca sofrem as partidas.
Podem sempre retornar, se quiserem re-pousar,
à seus portos petalados.
E misturar com as flores as cores das aquarelas.

E a flores reviverão as partidas dessas asas tagarelas

As borboletas nunca são achadas.
Mesmo que as flores se espichem em talos até o sol,
continuarão enraizadas
até a gravidade despetalar para si todas as sortes.

Mas até as borboletas têm seus tempos de morte.
E nem tudo se sabe sobre vôos e raízes.

E o que as borboletas não sabem
é que certas flores se desprendem ao ar em cata-ventos
com suas levezas.
Viajando com o vento, ou pairando com a sua ausência.

E o que as flores não sabem
É que as borboletas nem sempre têm forças contra os ventos
Fragilidades de suas naturezas
Por isso carregam consigo o perfume das flores, em essência.

O vento leva, e as borboletas nunca são achadas.
Mas força ele não tem, para fazer as flores serem alçadas.

sábado, 30 de agosto de 2008

Copular

O peso e o contrapeso do corpo.
O balanço do encontro, o encaixe
que alcança e abarca o outro
Corpo:
o contra-corpo do peso racional se perdendo em meio a afetos.
Os seres embarcando no sensorial.
O encontro, o encaixe, o balanço
barco existente entre os picos
do que é sensório e do que é racional.

O despencar das nuvens

Seu juízo não gostava de chuva.
Nunca gostou.
E foi numa dessas noites de tempestade que se perdeu nas águas da irracionalidade.
O juízo? [oh juízo!]
Decidiu permanecer em casa, agasalhado.
E ela se lançou louca por entre os pingos...
Bebeu da nuvem dilacerada, embriagou-se de êxtase e deixou fluir impulso.

Cantou, falou, riu... [aliás, gargalhou]
desnudou-se.
E amou sem escrúpulos aquele corpo molhado que, por acaso, a acompanhara em tempestade.

Quando a chuva passou, agasalhou-se num canto solitário e lá achou o juízo, arrependido de tê-la abandonado.

Então recompôs-se, pois o dia apontava renascendo, ensolarado.

Pelos olhos alheios

Lá vai o palhaço passando
Mulher, filho e fome
O olhar nos ares
E também os malabares
O circense
Vai passando parado
No que eu exigiria crescente

Lá vai a família estrelando
Ares de necessidade
Atravessando aros
Para esconder o tropeçado
O saltimbanco
Lá vai o tempo passando corrente.
E eu, vendo o palhaço carente.

E lá vou eu também carente
Mas do que há de lúdico
E vou morrendo dormente
[Caminhando cego com a pressa
Veemente.]
por não entender que o palhaço
é intenso, independentemente.

Aprendendo a fotografar..



















sábado, 23 de agosto de 2008

Ângulos

Bendita luz!
O que seria do mundo sem as cores que propicias?!

fotos tiradas no percusso PE-PB, em junho de 2008.

taça

No âmbar daquela taça amanheceu a embriaguês
Como quem doura o início de um dia.
E o gole daquela cor fazia crepuscular a lucidez.
No poente evolutivo da razão fria.
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fotografia à luz de vela. Maio.2008.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Carta

(Ou pseudo-poema)

Vezes me flagro buscando qualquer pergunta, qualquer afirmativa, exclamação ou fato.
Para atingir um fútil contato. [mero]
Sem sentido.

Não há peso. Não há ansiedade.
Ou medo.
Não há nada.

Não há?
Não entendo meu vício de te procurar.
Não entendo.

Não te cobro, juro.
Não me prostro cansada ao pé do muro.
Não me canso.

...e não preciso levantar, portanto.
Ando avante, sempre.
InConstante.

Não se afobe ou remoa, inquieto.
Não pergunte portanto sobre o afeto.
Não pergunte.

Eu te busco, eu sei,
eu te busco.
Mas não arregalo olhos ou ofusco.

Brinco de tatear o escuro.
Eu caminho consciente o vedo
Sem esperar a remoção do muro.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Dois

Coma-mi lo seu na minha boca o desejo na tua carn e minha pern a tu a boca morda-mi nha barriga que sente que sente o teu roçar em meu lá bio lógico o cabe lo que assanha o nervo que ferv e queim a pele na pele na boca nas pernas nos braç os laços que formam nenhumespaçoentreoscorposnenhumespaçoentreoscorposnenhumespaçoentreoscorpos

Maniqueísmo

Sou aquilo que escrevo, componho e pinto?
ou sou apenas aquilo que sinto?

terça-feira, 1 de julho de 2008

Viva

Eu estou viva!
Muito viva.
Do lado de cá ativa
Sensitiva
Viva!
Feliz quem me cativa

Por aqueles que arrebatam
Me espicho, me enrosco
Viro diva.

Em minha casa

Em minha casa, um dia
Uma visita a chamar
Mas cá dentro eu percebia
Residia em mim te amar

Deixei à porta, parado
Quem queria cá entrar
Quebrou até cadeado
Mas não pode me habitar

Viu que é teu meu espaço
E do sonho, cada passo
Que dou. E eu insisti:

Mesmo sendo só quimera
O sonho que me viera,
Nada cabe além de ti!

Falas tu com rigor

Falas tu com rigor
línguas, livros – cultura!
E em meu corpo se apura
e perdura o calor.

Ouso então te compor
(de amor ou loucura)
alguns versos de jura
em resposta ao fulgor:

vou perder a mensura
e buscar, e propor
para nós, sem fissura

entrelaço e mistura:
da paixão, o vigor;
do rigor, a rasura.

Não posso deixar de fazer alusão às conversas tidas com Magno, sobre a relação entre atrações corporais e intelectuais...
Muitas elucubrações e um soneto - que não foi escrito para ele, mas sofreu influências por meio de interessantes diálogos..

domingo, 29 de junho de 2008

Louca, morta, puta, viril
Remou, reclamo, me arrasto vaga
Por não poder saciar aquele cio

Trinco os dentes, retorço, me rasgo
Arremessei voraz o meu desejo
E dos prazeres que reténs, sequer um trago.

O fogo n’água morna: vapor!
Proferi minhas rudezas, gritei praga
E arrematei com ódio aquele amor.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Velas

Vela acesa para alumiar
Veleiro a flutuar no mar
Vela para não naufragar
na escuridão
Vela de cera
vela de embarcação
devaneio iluminado
chama acesa de luz:
barco de alma velado.

sábado, 14 de junho de 2008

Gira

Eu tenho certeza que o mundo gira
preparando passos ao próximo segundo

Gira eu tenho certeza que o mundo
passa-me atrás quando o vejo – tu.

Mundo gira eu tenho certeza que o
teu ser é quem me faz não mover

O mundo gira eu tenho certeza que
sem que perceba, perco gente, beleza

Que o mundo gira eu tenho certeza
mas por ti perco o pulso desse engenho

Certeza que o mundo gira eu tenho
Tenho certeza que o mundo gira eu

Eu tenho certeza que o mundo gira
e girando, quiçá, você será meu.

domingo, 1 de junho de 2008

versus

O corpo que briga com a intenção da mente.
buscando contatos, enquanto a outra se mantêm ausente.
E lança as suas armas
Laçadas, visgos, amarras.
E a mente se pondo a frente
e no alto.
Como se pudesse desfazer o poder do instinto.
E manter distante o que for tinto.
(colorido ebriamente)

Nada se aproxima, ou será que a epiderme anda dormente
pelo comando da razão?
Não.
Não se nega nunca o poder do envolvente
Corpo, biológico inerente.
O lógico se põe, orgulhoso
Mas o ID se superpõe imponente.

Entorpecentes

Chocolate, vinho...
Futilidade que preenche
o espaço aberto no corpo, pelo espinho
das ausências - solidão.
Felicidades fugazes do entorpecente
no espaço dedicado à proteção, ao aconchego e carinho.
Amoroso carinho, envolvente.
As mãos e os olhos
que o corpo perfurado já não sente.
O calor voraz do vinho, o chocolate:
futilidades pequenas do corpo
preenchendo o que alma falta, no arremate.

O soneto que a Menina fez ao Homem.

Belos os olhos teus,
e não me refiro à cor.
As linhas: fútil fator
frente à ausência de breu

Abismo do tempo é vão
quando no meu, teu olhar.
Mal observo que há
entre os anos desvão.

Quando, do brilho, o fulgor
(que o acaso cedeu)
oferece-me o torpor

não sou capaz de negar
meu mundo dizendo não
e eu a te desejar!

escrito em 06.10.2007

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Saudade

he is so beautyfull and made me fell happy again.
But he's not from here and went away.
He'll go back to his place this dawn
and I'll be here...

it's a little sad,
but we left each other with smiles and hugs...
I'm felling my body empty.
that's ok, it is just SAUDADE.
I'll be good.

terça-feira, 20 de maio de 2008

carmim violeta sanguíneo impulso

Carmim violeta.
Sanguíneo impulso.
Alguma coisa quente que corre em meu pulso.
De vida. De morte.
Alguma coisa que me faz ser dois:
ser azar, ser sorte.
Alguma coisa que corte
qualquer que me fira.
Embala macio o vinho da ira.
E a calmaria embalando violeta porte.
Ébrio carmim...
Acumulando impulso vermelho mundano.
Abandonando aos poucos a solidão do serafim
num matrimônio escarlate com o profano,
para fazer ferver o que há em mim.
Carmim violeta paixão impulso
vinho escarlate.
O vermelho caminhando para além do pulso
e transbordando tudo até que mate.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

O tom do azul

Que tom de azul é esse?
Quantas cores tem teu sonho?
Em quais delas caibo eu?
De que maneira me ponho?
Já não curto a cor do breu
Qual será do azul o prazo?
Que tom de azul é esse?
Azul: tom de acaso!

sábado, 17 de maio de 2008

O céu se pintou de cores
Luz incidiu diferente
Cada feixe reluzente
Pareceu extinguir dores

Cada pedaço de mundo
Gracejou vida garbosa
Com poesia onde era prosa
E cromatismo fecundo

Perguntei sobre essa luz
De onde vem que seduz?
Por que a vejo tão bela?

Foi meu ego que notou:
A paixão que me tomou
Foi quem fez tanta aquarela!

24 – fevereiro – 2008

Altos olhos de mar

Olhar inusitado. De surdina
Apareceu frente ao meu com a cor do mar
Com reflexos d’águas de Iemanjá
Movimentos de onda bailarina.

Se carrega consigo água divina,
Organicidade de modificar
(com o vento), pode também inundar
de transparência a minha retina.

E basta pôr distância na esquina
Afastando-me de tua beira-mar:
Impulso de nadar vai à ruína

Profundezas de oceano a me habitar.
Se eu, antes na superfície fina
Com lembranças agora a me afogar.

texto escreito em 09.10.2007

Não me mata de amor que eu morro mesmo

Não me mata de amor que eu morro mesmo
Cada instante que passa vai pedaço
Não me mata de amor que há segredo
Esperando por brotar nalgum espaço

Não me deixa morrer de tanto amar
No vazio que interpõe os nossos corpos
Como barco perdido no alto mar
Sem rever nunca mais a cor dos portos

Se acaso, por tempo, tu não venhas
Manda ao menos um canto pelo vento
Pra que eu saiba do amor que tu me tenhas
E adormeça contigo em pensamento

Mas se queres me negar as tuas senhas
Pensa ser só por ti o meu encanto
E não mata com amor que tu não tenhas
Quem deseja demais teu acalanto

Não me mata de amor que eu morro mesmo
Cada instante que passa um pedacinho
Não me mata de amor, que o meu segredo
É viver esperando o teu carinho

texto de abril de 2008
.

Já não me deixam, com beijos, polinizar.
Vou me juntar às borboletas
e dançar a solidão ao ar.
Observando tantas flores
e me mantendo a adejar.
Pois não surgem quaisquer amores
nos quais eu possa pousar.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Soneto da papoula

Um fim de tarde no peito
da moça; a luz inexiste
E ela retorna triste:
ausência de amor-perfeito.

Seria de espinho o leito
onde já não coexiste
um par? Mas ela resiste
à pulsão de tê-lo estreito

E assim em seu favor
antes de sair à rua
cata no mato uma flor

Nega permanecer nua
de beleza. E busca o amor
de papoula a luz da lua.

texto escrito em 11.09.2007

terça-feira, 13 de maio de 2008

Soneto do incenso

Acendi um belo incenso perfumado
Para, do peito, afastar tal negrume.
Com aroma, associado àquele lume
Ver ruir o ar amorfo entediado

Sentindo turvo o ambiente, esfumaçado
De estorvo penso estar o peito imune
Felicidade fugaz de um vaga-lume
Por ser foco principal de um céu nublado

Vislumbrada dei ao fogo tanta asa
Cegando-me por se fazer tão intenso
Mas veemência assaz: se auto-arrasa!

Extingue-se luz e cheiro. Finda incenso.
Concomitante, do coração: a brasa
Sucumbindo tudo a pó – vazio imenso.

texto de 09.09.2007

Faço questão de dedicar esse soneto a George Fernandes, que me presenteou com a inspiração necessária numa semana com muita música e discussões literárias que apenas ele e Magno são capazes de oferecer e propor.
E pelo incenso...

E mais, pela minha felicidade de ter sido incitada a um primeiro soneto. Eis aqui.

E a Magno por ter discutido comigo as sílabas poéticas e as métricas, permitindo correções e ajustes.
Magno Marques, meu eterno mestre.

Lua

Nova entre meus lençóis
procuro. Quarto crescente
Plena, no manto preto:
minha noite ascendente!

Clareia, cheia de luz
desfaz o caos da vida.
A paz serena noturna
nunca a deixa esquecida

Crescente quando mínguo
Cheia quando careço
Se põe entre as estrelas
No meu céu, se anoiteço.

Mar de perfume

A angústia que rege
O anseio ao par
Neblina o estar.
E o ser se imerge

num mar de perfume
contra o asfixiar
do escuro do ar;
pra ampliar o lume.

Pra paz inalar,
solver, transpirar
pela nua pele

e enfim ser capaz
de conter a paz
que o amor impele.


abril de 2008

a Baco

Cultuo Baco
Cultuo Baco
Cultuo Baco
A festa dos prazeres
vinho e tabaco
do corpo: os dizeres
(carnal comunicação)
Cultuo Baco
pois os prazeres da carne não se opõem ao coração.

texto de 12.10.2007

A tristeza das árvores

As árvores se distorcem todas
Se retorcem mudas
A cada poda
E todo instante moldam
Ao novo modo humano
Suas linhas.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

(gravura sem título)




Tinta Nanquim preta, pincel e água sobre papel branco.
(aprox. 65cm X 65cm)

Trôpega

Trôpega. Ébria. Que dia hoje é?
Esqueço-me; pelo homem, pelo sonho
Contrario meus conceitos, me exponho
Por contato que perpasse o cafuné

Universo de pensar se põe ralé
Recuso-me a me manter no entressonho
Reluto ao equilíbrio, ao enfadonho
Entorpeço-me: vinho, cacau, café.

E se com embriaguês desenvergonho
E desenvolvo, do desejo, cá o balé
Renuncio à tristeza do bisonho

Os desejos de meu corpo: eis de pé!
Reconstruo, pois, caminho medonho
E assumo meus instintos de mulher!


13.10.2007

domingo, 11 de maio de 2008

Soneto da rosa de papel

Meu bem fez e me deu: rosa de papel
Iluminada e branca, como o luar
Perfume inebriante, intenção de mel.
Dentre as flores, a mais frágil que há.

Mas há medo que ele me largue ao léu
Indo embora e deixando de me amar.
Haverei então de queimar, jogar ao céu
as cinzas. Para nunca mais dele lembrar.

Mas se amor dele for real e brotar
Sem saber jamais o gosto amargo do fel
A flor! Eu juro: dela muito hei de cuidar

Fogo não queima, chuva não há de rasgar
Pois ela irá compor e enfeitar o véu
Que usarei, para com meu bem casar.

03.05.08

Um par de pés

Sob a turva luz do poste – e apenas ela
Na noite de cinza céu
Com a doçura única da cana-com-mel
Lembrando o amargo constante da boca deserta
Uma vida nublada pela melancolia dos pensamentos
Daquelas felicidades fugazes dos momentos
Vaga em pleno inverno.

Monotonia tediosa dos dês-acontecimentos.
Nada é pleno.
Voltar a ermo exposta ao sereno
Reconhecendo a solidão dos fins dos dias

Haverá apenas um par de pés embaixo do cobertor.

texto de 09.07.2007

A questão dos tempos

Cada ser tem seu próprio movimento
E o viver: desses egos, reunião
Que emparelham – escape à solidão –
Quando encontram, do amor, o tempo.

Guardo cá, do meu medo, o sofrimento
Eu me perco a te buscar, sonho em vão
Pois não ouso vencer mero desvão
Que circunda o nobre pensamento.

Minto a mim, mas já sei: vulgar ungüento
Nosso abismo não é culpa do vento
Eu que perco, do ser, a exatidão

E por não conhecer o seu momento
Onde cabe o meu leve acalento
É que afogo, enfim, minha intenção.

texto escrito em janeiro de 2008

Ao inconstante

Se quiseres voar,
bate as asas e curte os ares, meu bem.
Olha o céu azul!
Se quiseres adejar alguma flor,
(ou várias)
Escolhe-a(s)
e te alimenta da fertilidade do pólen.

Mas não esquece da fragilidade de tuas asas
frente aos tufões e às quedas d’água.
Não esquece que podes espalhar mágoas
por entre as pétalas coloridas
e desfazer delas, as alegrias tingidas.

Voa, meu bem, borboleta leve.
Vai além da pequenez monogâmica.
Mas te lembra, sempre,
o que, nessa transloucada dinâmica,
tu buscas.
E não deixa que a fútil embriaguez
– que ofusca –
modifique teu rumo, à toa.

Vai embora,
vai sim...
Voa!
Mas leva sempre a certeza que buscas a felicidade.


texto escrito em 05.05.08

A dança da memória com a fantasia. (e vice-versa)

Fecho os olhos:
as imagens reais silenciam
e as lembranças cantam.
No escuro das pálpebras
as linhas dançam
coloridas
recompondo teu belo rosto
em meio a conversas floridas
que tivemos.
E os traços, e o timbre
a ousar esboços das que teremos
(quiçá).

Fecho os olhos:
a memória e a fantasia se abraçam
e juntas, se põem a dançar!

texto escrito em 01.05.08
ilustração feita em 28.04.2008.
Brincando com caricaturas.
Grafite sobre papel opaco.

Semeando

Na noite de céu nublado
Broto em flor surgia
Quando cada pingo d’água
Da chuva que caia
Semeava amor por ti

Pleno banho de chuva:
floresci!

texto escrito em novembro de 2007

A moça solteira

Fim da tarde
A luz do dia se esvai
Cada um com suas estrelas
(os olhos: casais)
Ela tem apenas as astrais
E nenhuma pessoa num conjunto de silêncios.

texto escrito em Agosto de 2007

Flamboyant


flamboyant num fim de tarde quente - pela cor - de Recife.
Giz pastel oleoso em papel A3 opaco branco. (um pouco distorcida pela fotografia).
Feito em 28.03.05

sábado, 10 de maio de 2008

.


Vezes o corpo cria uma incomum leveza
e se abrem sobre as costas
duas grandes folhas de papel
(pintadas à mão)
Recortadas com esmero.

O vento sopra e carrega
Por entre flores
(perfumes, texturas e cores)
Aquela forma feliz
De ser.

“cria asas brabuleta”
Assim espero.
.

Todo meio de pré-estabelecer um conceito
De não conhecer
Antes de sentir já feito
Uma recusa
Do que é alguém

Antes de você nascer
A sua cultura nasce você
E a gente pensa saber
O que é
E nem sabe como sofrem
Aqueles que estão às margens

Pensa se você se fez
Ou se te fizeram antes
Em que moldes te esculpiram?
Você foi humano em que instantes?
Quantas vezes foi instinto
Se foi sempre real
E se pode se dizer “não minto”!

texto de 15.12.04
Preciso pintar uma árvore
Pegar uma flor num canto...

Preciso acalmar meu pranto.

V.I.

Sou.
Verbo intransitivo
Vou, faço, gosto, gozo
Cada pedaço presente
Do indicativo
Da conjugação:
Espelho lingüístico do ato.
Mesmo que cada gesto retrate
O ascendente da futura ação.

texto de julho de 2007
.


Uma bela árvore
Não tanto quanto sua raiz
Estrelada
E eu: nela sentada
No sol da raiz
Da árvore bela
Mais belas suas folhas ao chão
Como um tapete
Vermelhas e amarelas
E laranja se vêm (elas)
Folhas verdes
Secas marrom
Uma só planta
Tantos tons
Poderia me esconder
Me acolher no vão
Entre cada tentáculo
Um espaço de chão
Que eu caberia
No sol da raiz
De cada dia.

texto de 02.03.2005

Uma boa música – sentida

Vibra cada acorde
Em cordas
E me acorda, após
O passarinho
Me cerra a pálpebra
Encerra o que há de lúgubre
No ato de ser
Faz sorrir
Expõe toda leveza do existir
Em notas
Invade minha porta
Rompe, quebra
Tencionando a minha face
Até abrir, sem retorno
Um sorriso
Até curar, por fim
A minha alma.



texto de 12.07.05
Para Val (flautista) e Maurício (pianista).
.


Sob o solo seco
da dor
a intenção de deixar crescer
uma flor
da planta da semente
do amor
há muito merecido

e se rachar
a terra
deixes que abrace
chore ou ria
a chuva
pelo grão
sem esperar
tristeza ou alegria
afeto ou mágoa
brotar do chão

sem exigir pra si
as pétalas
abertas pela água
porejar
mesmo sabendo
que os pingos
podem um dia
retornar ao mar.

texto de 22.10.2005

Sol e chuva

Todo dia vem o sol:
Traz cor, luz e calor
Se une ao rouxinol
com seu mundo de amor!

De mansinho vem surgindo
Se apossa do lugar
E, aos poucos, colorindo
Consegue o mundo alegrar!

Sereno e sensato
Mostra um lado ardente à vida
Ágil como o pulo do gato
Seguro quão uma boca rida

Porém, todo ano tem inverno
E o sol teima em escapar
Entre nuvens e pingos
Que o céu insiste em porejar!

Aqui então fica assim:
Molhado, escuro, sem luz
Vem a chuva, cai em mim
Deslumbra, fascina, seduz!

E nessa penumbra
Vem o sonho se instalar.
E já que o sol deixa umbra
Vou para o escuro dançar.

Cada frio pingo a derramar
Arrepia meu corpo fino
Quero ouvir a chuva falar
Me cantar o mais belo hino

Desejo águas a me molhar
Dia inteiro, todo tempo
Roçando-me num olhar
Indo além de um só momento

Mas sempre passam as chuvas
E me deixam a soluçar
Penso, então, nas doces uvas
Que o sol poderia me dar

Mas o sol se enciumou
Quando assim me encharquei
“Não te quero”, anunciou
“cuida-te, ou te abandonarei”!

Aspiro sol e chuva
a desenhar no ar: cores
deixando minha mente turva.
Plantas, flores, amores!

Que fazer, então, meu deus
Com dois mundos paralelos?
Que mexem nos carinhos meus
Um par de genes: alelos!

texto de 2003
.

Vaga-lume
Vaga-flor
Beija-flor
Beija-gente
.


Vida leva e trás a gente
Para os mesmos lugares
Porém diferentes
A cada instante
Após a muda da mente
Que cresce, dá e solta nós
Vira serpente
Os nossos pensamentos
Solta peles
Deixa cascas para trás
E anda nova
Para mais.

texto de 18.02.05

Para a solidão

Ei! solidão, bicho escroto
Não venha me saudar
Não me peça que te exalte
Sai!
Você não vai entrar
Estou correndo de ti
E desse escuro lugar
Mesmo que sozinha
Tu não me vais invadir
Estou aprendendo a fugir de ti!
Ei! solidão
Companheira ingrata
Não hei de ser uma das que você mata!
.


O excesso de doce satura
Bom mesmo é uma dose de ardor
Com pitada de amargura
E dor

A dúvida.

texto de março de 2007

Reserva romântica

Mil paixões me atingem
E o afã a toda hora
E nada se constrói, embora,
Nessa reserva romântica
Que sou.
.


Não digo que te desamo,
nem que nunca mais vou te amar..
nada digo..
(agora)
porque não é hora de falar..
a gente não pode gritar sem voz.
É melhor calar..
se queres desparafusar a borboleta,
para que ela já não deixe teu jardim..
Sinto.
Já não há tantos vôos nem jasmim...
E se achares um casulo perdido no meio da floresta..
estejas certa: se trata de mim.
Podes crer...
e não o muda de lugar.

(diferente das borboletas, os casulos não são leves e móveis)
.


Posso dizer que já fui louca
Já fui morar no mar
Bem lá no fundo
Dei gargalhadas
E instantes seguintes me pus a chorar
Entrei em desesperação
Greve de fome, surto.
De tanto gritar fiquei rouca
E hoje na manhã de sol
Sou feliz
Na plenitude de já ter sido louca.

Projeto de mim

O sorriso que se expande
O rosto traçado
Num esboço
Mim geométrica
Sim, certa métrica
Em minha construção
Face assimétrica
Que estou projetando
(minha vida)
E não consigo evitar
Nem que se mande
O sorriso, aquele,
O que se expande.

texto escrito em 17.10.2004
.


Se divide alegria, amor.
se divide confusão.
Pede ajuda
Dá conselho
Se pede a alguém pra se olhar no espelho
Se briga...

Mas a tristeza não...
Essa só merece ser esquecida
Tem que se deixar escondida.
Num baú
A tristeza tira do céu o azul.
Do rosto o sorriso.
Não, a tristeza...
Não me é preciso

O mar

Meu riso corta o ar
À beira-mar

Sinto-me criança
Pois ensaio uma dança

De menino
E continuo rindo

Infância
Dispersa-se a ânsia

E me vejo máximo
E esqueço tráfego

Carros, civilização
Vejo só meu coração

O mar é lindo
E me deixa me sentindo

Com o coração refeito
Satisfeito

Ótica de um arquiteto

Antes de nos habitar
O teto habita o ar
O espaço
Antes de pôr o septo
Tudo é só um pedaço
De não-vão
E sem o arquiteto
O que é a construção?

O palhaço

Após findar o espetáculo
Tem medo de se revelar
No seu intrínseco palco
Outro ser
Nem sabe ele
Como temos – todos
Nossas máscaras

Nem sabe ele
Como certo – largo – sorriso
Pode se revelar contido
Quando vem o escuro...

texto escrito em maio de 2005
.


Olhando em volta, resolveu caminhar
Posto: não era belo o lugar
(da partida)
Alguma simpatia, nunca beleza
Num redor sem vida
Pedra plantada em cimento
Fumaça.
Simpatiza perder o rumo
A barcaça
Que já não em sonho
Sai pelo rio a deslizar
Ao desencontro da pressa.

texto escrito em novembro de 2006
.


Ondas no mar do meu corpo
a tua vinda provoca.
Ansiando nosso inundar
minhas águas molham areia
que caminharás
quando me tocas.

O encontro se dá
ao teu rio vai minha onda:
desemboca.
Nossas águas confluem,
bailam, dançam
e gozam essa pororoca!

texto escrito em novembro de 2007.
.


Na cidade não cabe a cor do crepúsculo
A cor da paz
No caos cotidiano
A cidade não ouve o barulho do mar
Cinza poeira ruído
O celular!
Deturpam o amplo espaço do pensar
Já nem se perde a hora pela harmonia do cosmo.

31.08.2007
.


Minha beleza veste saia
Saia rodada
Flutua e paira
Adeja o ar
Faz meu mundo girar
Minha beleza é solta e leve
E me pede pra girar

Deixa se levar com o vento
Passando acima
Sentido atento
Livre
Em qualquer lugar
Minha beleza veste saia
E se põe a me enganar

Abstrata a minha beleza
Nem sempre se consegue achar
Tento, faço
E não consigo
Com palavras decifrar
Minha beleza veste saia
E goza, às vezes, me abandonar.


texto escrito em 13.10.04

Desequilíbrio

Eu pego
Eu cheiro
Eu mordo
De fato
Mas não chego a usufruir de todo tato
O corpo convidativo.

texto esctrito em maio de 2007
.

Me deixe quieta
Num canto
Hoje o dia está sem magia
Tá assim
Escrito de qualquer jeito
Sem rima
Sem modos.
O dia amanheceu feio...

texto escrito em 16.03.05

Para Maira Bruce

Não sei bem por que
No negro tão transparente
Daquelas grandes janelas
Me inundo.
Como se gritassem – elas
Sobre sol, flores, perfumes:
Fecundo!
(a essência da beleza)

Aqueles olhos pintam sobre a alma
Dia-a-dia
A pura simplicidade de poder ser feliz

texto escrito em 12.06.07
Quem conhece a íris dela, e a forma que o brilho da felicidade se põe quando vêm, sabe do que estou falando.

Caminhando com meta

Caminhando com meta
Mas não com reta
Talvez até com seta
Curva também conduz
Ela nos induz
À leveza
Curva trás beleza
Vou na direção certa
Não obrigatoriamente com reta!

texto escrito em 11.05.05

Caramuja

Sim: eu caramuja!
Mas agora não mais rondo
Agora eu só me escondo
No meu casco
Encontro Eu lá dentro
Disperso asco
Do sentir das pessoas
Que estão afora
No meu mundo
Quem quiser me ver
Venha cá no fundo
Da minha carapaça.

Estou lá dentro.

Falsos amigos

Voem comigo
Não tenho tanto a vos dar
Mas tendes menos ainda
Amor...
O sol brilha mais em mim
Suas simplicidade e auto-confiança desapareceram
Nem hão de voltar agora
Imagem, semelhança
Censuro!
Faço minha própria andança
Não me venham ensinar
Já sei aonde ir
Vocês é que precisam procurar
Vão!
Me deixem em paz!
Sei sorrir muito bem
E vocês ainda me fazem chorar
Estúpidos!
Não foram vocês que fizeram eu me achar
A lua também brilha mais em mim
Não preciso de vocês para enxergar
Vocês já não me fazer bem, por um triz!
Deixem-me, já sei ser feliz!

texto escrito em 11.05.2003

O São João da Matuta

Hoje o dia choveu
No meu arraiá
Meus pares me negaram
Quando pedi para dançar
Não arranjei o meu noivo
Como tinha imaginado
O mundo que pensei abrir
Continuou fechado
Vontade de me explodir
Em dança
E nesse mundo sem giro
Nada se enlaça ou entrança
Eu só
Sem bailar
O dia hoje choveu
No meu arraiá.

texto escrito em 23.06.05
.




Impostar a vida
para ressoar melhor os fatos.
E os sonhos..



.

Reprimido

Gente é assim
Gente sente
O que muitos dizem:
“não deverias sentir”
Mas gente sente
E eu sou gente
E sinto tudo
E fico mudo
Para não me expor
Mas eu deveria me impor
E por acima
Tudo o que acredito
Mas não, eu minto
E me escondo
Mas gente é assim
Não costuma caber em si
Precisa fluir
Deixar um dia explodir
Gente sente
E eu sou gente
E conseqüentemente
Eu sou assim.

texto escrito em 25.11.04

Des-Reprimido

Gente sente
E põe acima
O que acredita
E a vida ensina
Que levar a frente
O desejo, a vontade
Nos faz ir além
Da voracidade
E atingir
(por fim)
A paz.

texto escrito em 21.11.2006

Amigo-planta

Amigo é feito planta
Tem que cuidar todo dia
Chegar perto
Aguar carinho
Deixar que venha um passarinho
Fazer amor.
E nós: não ciúme
Em ver aquele pequeno ninho
Amizade é assim
A gente precisa adubar
Para não murchar
Amigo necessita mostrar
As flores que bota
E nós: as cheirar.
Amigo é feito planta
Sabe-se que pode contar
Por mais que ele cresça
Você sabe onde encontrar
Amigo é assim
Vivo
Amigo para cuidar e amar.

texto escrito em 25.10.05

À minha miopia

Se meus olhos já não vêem
Fecho eles e giro
Se eles me doem
Sinto o ar
O vento
E respiro
Faço a saia rodar.
Se meus olhos são compridos demais
Para agarrar a imagem por si
Que fazer?
Preciso ser feliz mesmo assim
Preciso rir.
Deixar minha beleza fluir
Ao menos um dia.
Não ser cotidianamente fria
E fina e fraca
Na comunicação corporal
Do meu ser.
Meu organismo se expande
Quando não posso ver.

texto escrito em 24.11.04

A alguns amigos.

Corra atrás
Corra ao vento
Vá atento
Para não desviar do caminho
Para não desalento
Fique esperto
Não se jogue ao relento

Corro e tento
Sua amizade
Sua atenção
Poesias invento
Para quiçá, comunicação.
Algum sentimento
Que há.
Sem espaço para voar
Sem emancipação.

Corra ao vento
Mas olhe em volta
Um só momento
Onde há movimento
Onde estou eu
Ou, após algum tempo,
Só haverá breu.

texto escrito em 05.11.04

Sinto-me florescer

Os pés largam o chão
Numa meditação consciente
E cheia
E o medo parece temer minha casa
E o tempo ganhar novo compasso
Na leveza firme do meu passo.

Abre-me pétalas!

.

Equilíbrio

Agradeço a chuva
Que não deixa minha terra secar
Ao sol,
que não a deixa inundar.
Agradeço o equilíbrio.
O par.

.

Borboleta

É sim, pois, o vento
Quem manda nessas asas leves
Desprovidas de poder pousar
Ensaiando descanso
Numa flor qualquer
Mas sempre seduzida ao ar
Gritando aos céus
“vivo sim a adejar”
Como quem foge de amar
E agita, leve, ao corpo, a ânsia
E faz das flores: platéia
Essa bailarina colorida
Chega, pousa, poliniza
E volta a descrever partida.

texto escrito em 23 setembro 2005

A quase polinização do ser de lá.

Sempre que, por um sopro,
as asas que se pintaram cá
(no meu existir)
podem alcançar esse jardim,
parecem-me ocupadas certas flores.
Como se o tempo corresse, já,
desde sempre, desde muito
com o vento
E não se percebesse o intuito
Do voar baixinho.

Vem a brisa e redireciona o vôo.
Já não se sabe o instante de repouso.

Para Chico, Quico, Francisco
Manhães de Castro.



.

Namoro praieiro

Sob foco de luz e manto azul repousa o mar.
Os céus um sopro e:
areia ao ar!
Vento.
No eterno refazer daquela duna
Onde corre a maria-farinha
Água virando espuma
A ecoar ritmo qualquer
E os cabelos dançam!

Ele a presenteou com uma conchinha.

texto escrito em 19.12.2005