sábado, 22 de outubro de 2016

LAGARTA FIRMAMENTO

Impulso tem a lagarta,
com o corpo a tatear...
Tanto trabalho no chão,
para um dia se alçar.

Que força tem a lagarta
pra querer se transformar.
Ainda sem ter suas asas,
almeja um dia voar.

Junta o preciso, a lagarta,
pra metamorfosear.
Em que será que se firma
para não pestanejar?

Rasteja densa, a lagarta.
Pesada até se quedar.
Então pousa longo tempo,
parada num só lugar.

Labuta a muda, a lagarta
 – distante do que será –
mesmo sem ter ido ao céu,
nem saber o que passa lá.

Se empenha em ter, a lagarta,
jeito de se pendurar.
Fecha-se em canto só dela,
se aninha em restrito lar.

Silêncio afora. Ninguém.
Parece só descansar.
Mas dentro faz a si mesma,
de asas, um belo par!

Trabalha no vir a ser.
Distinta renascerá.
Se antes pesada e lenta,
leve e sagaz ficará.

Um dia, bela surpresa!
Da casca sai devagar.
Sai em cor a borboleta,
tingida, fina e solar!

Quiséramos ser lagarta
e somente acreditar.
Trabalhar árduo na terra,
e um dia, simplesmente, ar!




domingo, 16 de outubro de 2016

Beira de borboleta


Ao pé do penhasco, pessoa.
Avante, um colorido ar.
São borboletas das intocáveis,
e alguém a observar.

Pessoa parada na beira,
atenta para não tombar.
Mirando, discreta, as cores:
deslumbre vivo a adejar!

Tão lindas as borboletas!
Quem dera poder tocar.
Mas desfiladeiro abaixo,
tão pouco pode avançar.

Espia o caminho que veio.
Para trás poderia andar.
Mas lá não há borboletas.
Quisera nunca voltar!

Estanca ao pé do barranco
a pessoa a quimerar...
Mas que grandioso exercício
(e árduo): só contemplar!