segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

domingo, 18 de outubro de 2009

Senilidade

Vejo a morte rondando em passos surdos
Ouço ela causando os passos lentos

Vão-se os passos da quimera, se apagando
E a espera de morrer: único alento

Sinto as pálpebras cerrando sobre os olhos
É a luz do final que está cegando

Como passos arrastados pelos pés
Vão-se os olhos indo embora, se arrastando

É que acende a luz da morte que já chega
E a luz dos olhos vai morrendo, se afastando

E o corpo da morte se estendendo
ao passo que o em vida, definhando.

Vento

Eu sou vento de outono arrancando as folhas
Para aquela árvore se aperceber
Que arrebato, sopro e sacudo os galhos
Dela. Que se julgava sozinha ao entardecer

Sou vento de agosto, e dispenso ralhos
Para seduzir ao sopro e revolver
Esvoaçar pó dos sonhos aos olhos
E ao invés de cegar, fazer bem ver.

Porque sou vento [pois solto] e que me valha
Enraizar em você meus devaneios
Eu balance com vida as suas galhas
E devaneie por mim os seus anseios.

promessas e sonhos ou ilusões.

Pago promessa pela perenidade
E tu me somes?
Me fizeste juras de eternidade
Que me consomem.

Que promessa é coisa de sempre.
E se não puderes cumprir
Não invente.

Não me suma sem contar da ausência.
Nem me solte sem matar os sonhos.
Que tua promessa se torne demência!
E sofrimento não me seja medonho!

Pago promessa pela perenidade
E me atormentas.
Então me escreva na felicidade
Que te ausentas.

Que sonho não é peça para jogos.
E se não sonhas, some.
Eu rogo.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Amor-aguardo

Para Vinicius, e lembrando de Gabi, Jú, Peter e Danny.


Meu amor - que sinto - é um passo em paz
Meu amor infindo com gosto de mais
Um amor-repouso.

Se o contato de corpos é um quase “jaz”
Não morre não some ao que se faz
Esse amor-aguardo.
E quando a distância se emerge audaz
Vai correr o tempo a extinguir o agraz
E é amor-contínuo.

E a estação socorre em chispar, fugaz
Para que logo chegue o amor-voraz
De um amor-encontro.
De um amor-instinto, [mas também razão]
De um amor-faminto, amor-paixão
De um amor-loquaz.

sábado, 22 de agosto de 2009

Todo amor deixa um gosto na boca

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Todo amor deixa um gosto na boca.

Se o amor é manso e perene
Sua doçura é um flash de sempre.
E deixa um gosto de vício.
De nostalgia. Suspiro eterno.

Amor com um gosto materno.

Se o amor é fútil e vulgar
O gosto é cortante e cruel.
De fome, de estômago vazio.
Dia amanhecido doente.

Amor com sabor de acidente.

E se nem é amor, também sápido
Gosto de nojo e de asco
De beijo dado sem passo.
Malogro. E de traço torto.

É amor com gosto de aborto.

Contra-força à castidade

Se desejas castidade não te afobes
Nem permitas um só gole de desejo
Que a volúpia é amiga do ensejo
E devora a tua pele como hobby.

Se concedes a um poro o arrepio
Abres todos à volúpia mais mundana
Que a lascívia é do corpo soberana
E o prazer é compulsivo como o vício

Se desejas castidade, nem te toques
Um desvio da postura é teu derroque
Nem te dispas, nem sequer ouse pensar

Um segundo e o desejo reinará:
Breve o que houver de frio vai ferver
E te entregarás ao cio até morrer.

Canalhas e Idiotas

Nessa vida há canalhas e idiotas
E cuidado meninas, é diferente.
O idiota é um estúpido supérfluo
O canalha é um amor, mas fugazmente.

Um canalha que se preze nem tem fama
Ou se tem, bem se faz de displicente.
Já o idiota nem merece comentários
Nunca dê um quê de prosa ao impudente.

O canalha sabe achar o bom da alma
E amar o mundo todo intensamente.
Não se volta ao seu umbigo pequenino
Expande-se aos contatos – corpo e mente.

O bom canalha, calhorda, safado
Sabe bem o que fazer, quando com a gente.
E por mais que xinguemos, blasfememos
Nos carrega e deixa tudo mais contente.

Aconselho que se façam bem atentas.
Apesar de serem ambos sorridentes,
Em um deles tudo é falso e rude e tosco.
Já no outro é passageiro, mas luzente.

Então lembrem-se bem, caras meninas
Apesar de parecidos: diferentes.
Olhe bem nos olhos de cada safado
E siga apenas com aqueles reluzentes.

Sobre tempos e luzes

Se mantivesses diariamente teu ciclo de luz
teus olhos fariam resplandecer o brilho do mundo.
Mas tu sempre corres.

E não resta ao pensamento um só repouso
E por desuso, ou por descaso, a paz falece.

E por não avistares, julgas que teu medo morre
Tristeza morre
E que morre a tua solidão.

Quando matas cada tempo de meditação
[morte à suspensão, intervalo, paz]
Na verdade é tua plenitude quem jaz.

E sob o corpo defuntado tua tristeza se esconde
E se esconde também aquele medo
E se esconde também a solidão.

Todos vivos, camuflados, infiltrados
A esmorecer o teu brilho e o teu dia.

Desperdiças diariamente a cor do mundo, e ela passa vazia.
E o teu mundo corre.
E o teu tempo morre.

E o que resta em teu silêncio são ausências.
E o que resta ao teu silêncio te é medo.

Sabes bem do não-espelho de teus olhos
Escolheste a causa desta conseqüência.

E pergunto-me se te sentes bem feliz
Mas a resposta deve ser [até pra ti]
Um mistério irrevelado, um segredo.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Ser inconstante

O que é ser inconstante? Perguntam.

É marcar de ver o amor, pensando no amante.
É amar o mundo todo, em pensamento
sem sair, um só momento, do imaginar.

Inconstante pode ser, então, ficar? Querem saber.

Inconstante é estar à mercê. Mas não só.
É rever um grande amor vagar o mundo.
Algo deste segundo, que se refaz a frente.

Singelamente, me resume isso tudo? (Improvável).

Inconstante é variável... intermitente!

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Quadrinha






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Amor mole, coração duro

Amor mole, coração duro
Por mais que o amor insista
Não consegue abrir um furo.
Coração duro, amor mole
O amor derramando melaço
E o coração, nem um gole.

Amor mole, amor mole...
Larga essa rocha de lado
Antes que ela te esfole.
Coração duro, coração duro
Não vês que dessa maneira
Não passarás de um muro?

Amor mole, coração duro
O amor já nem insiste.
Triste coração inseguro.

Houve um tempo em que fui felicidade

.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Se um momento há planta feita, há inverso tempo
que decresce o ser já pronto num recuo lento.

Os tempos do mundo não se aquietam.

Algazarram e congelam a enternecida
vida, um dia pronta e feita e quente.

E a fruta que era bela, amadurecida
é regressada aos verdes tempos de semente.

Os mundos do tempo não se aquietam.

Se num tempo há planta feita, há vento inverso,
transformando a volta em ida
e a ida em eterno regresso.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

A paixão é como uma chuva de verão,
teima em nos surpreender sem os nossos guarda-chuvas.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Pequenina mulher

A pureza birra ser logo primeira
e a criança, dessa forma, não se esvai.
Mas tão breve mulher chega, logo teima,
soma junto um novo olhar, vai ademais.

E se o lúdico se espicha pela beira,
pois nem tudo pelo meio é pura paz.
Na criança [até mesmo] já há queima
do perverso e da volúpia [bem sagaz].

A pequena [ou adulta] logo queira
se coloca. Mesmo não, recolhe e vai.
Numa dança equilibrada e brincadeira:

um pedaço se esconde o outro sai.
E vai ela se trocando sorrateira,
pequenina mulher e seus sinais.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Metralhadoras de Tinta

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Para Thiago Liberdade.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Encanto Pueril

É uma coisa besta, boba,
de sorrir à beça,
com as paredes e as memórias.

É uma coisa de trela, traquina.
Quase proibida,
por timidez, não por tolheita.

Uma coisa qualquer, e pronto.
Quem nem se quer pensar.
Não se assume ou aceita.

É uma coisa... é.

Que de tanto visitar o que se tem de criança,
termina por despertar o que pode haver de mulher.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Eu sonhava. Não sei onde era real e onde não.
Mas o subconsciente me contou:

Estávamos lá
e éramos lindos.
Mas pseudo-amávamos...

...por isso o que havia era algo de tosco.

Relação Passiva

(Gritam, puxam, reclamam
as línguas soltas de quem já nem amam.
Dizem que é coisa de modernidade.
E já não se pensa na possibilidade da paz..
Ou o que seja).


Nenhum silêncio.


Mãe, eu tou tentando ler!

$@#*_+§ A chave não esta não esta na porta
Onde colocaram a N@* da minha roupa que estava aqui??? @ #_D)@
Quem mexeu nas MINHAS COISAS
(revirando as coisas do outro)
Já disse que não mexessem no que é meu...
(remexendo o que é do outro)
ora $@#* N@*D)@


Nenhum silêncio.

Mãe, por favor, eu estou tentando ler!

...que eu lavo os pratos, eu pago as contas
Faço feira*)¨$@#@§, lavo a casa...
Trabalho feito uma condenada naquele lugar de corno
E ainda mexem nas minhas coisas
*%$@~~*&¨$%¨# ONDE ESTÃO AS CHAVES?... *&¨¨$$@@!3+=§...


Nenhum silêncio.

Mãe... EU.ES.TOU.TEN.TAN.DO.LEERRR

(Pões os fones de ouvido)

*%$@~~*&¨ ○ ●● $%¨# eu não agüen♫ ○ to mais *&¨¨%$@~~*@!3+=§...
MIJSJCSJ%$@~~*♪♫ ♫♫♫♫ CMBmcnj%$@~~*bngbm..,;.;;...[],k,
Dslknfbloj♪♫ ♫onde puseran nb;;[ ;[~as chaves????;p ~[;ç];/[~];/vfmk○♫● ♫○ %$@~~*jbv36534
Vnfob;....


(aumenta o volume)

... ○ ○ ●● nde pus○ ♫ ○ ● ○ não agüen ♫● ♫○ ● ♪ to mais ♪♫ ♫♫♫♫ ○ ○...

(aumenta um pouco mais o volume)

... ○ ○ ●● ○ ♫ ○ ● ○ ♫● ♫○ ● ♪ ♪♫ ♫♫♫♫ ○ ○ ♫ ○ ● ○ ♫● ♫○ ● ♪ ♪♫ ♫♫♫♫ ○ ○...

(*# )(* &¨ ?}§[] jhs¨& % $ *% 639*& 53....

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Quando Um

(ou Sobre a Solidão - II)


O silêncio paira quando Um cala:

vazio desvairado em profusão;
em ruidoso monturo, multidão
nenhum sibilo, silvo, assovio.

Dentro de Um, nada abala,
e o silêncio paira quando Um cala:

já nem pelo som, mas pelo espaço
que deveria ser cheio, porém escasso
com nenhum perpasso em quinosfera.

Toda presença é, pois, rara.
e o silêncio paira quando Um cala:

ou uma gente que já nem se sabe
dos impulsos, instintos, tatos, verdades.
E esse tipo, lá, ainda ausência...

A imparidade é quem fala:
o silêncio paira quando Um cala.

Mesmo que suposto acompanhado:
sobre vibrações sonoras: parado.
...é que a voz que tenta é tão rala...

...que o silêncio paira quando Um cala
e apenas solidão ousa trajes de gala.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Pelos Instintos



Arranhar superfície com as unhas
E rasgar com volúpia essa farsa
De que gente não pode ser bicho
Arrancar cada parte sem força
Riscando cortante com as garras
E não falo do falso ou do fútil
Mas de impulso e de vida, pulsantes,
Lascivos, latentes em farras
Do adorno à entranha: algazarras
Do que é fértil, fervente e gritante.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Soneto da Amante

Se contigo sou a outra, não importa.
Saibas tu que serás sempre meu amante.
Se eu achar um grande amor, estonteante
Que não penses nossa sina como morta.

Não convém, das nossas vidas, qual a rota
O caminho, congruente ou discrepante
Cada amor, cada escolha, ou quê frustrante
Terá nada com a volúpia que é nossa.

Nem se conta nosso caso ou se publica
Que fazemos e o que temos é sem fama.
Burocrático esquecemos, não se aplica.

E liberta-se a lascívia e tanto chama
Que entre nós não há porque eu ser pudica:
Te haverá sempre um lugar em minha cama.

Sobre a Intensidade

Quando se está sensível ao sopro,
o ventilador pode ser um incômodo.

segunda-feira, 9 de março de 2009

A culpa é da pêra.

Eu comi uma pêra lasciva.
Molhada. Lisa.
Eu comi.

Criou em minha saliva a libido.
Não fui eu, juro.
Foi a pêra.

Aquele lúbrico. Nem solicitei.
Eu pedi só a poupa,
o nutritivo.

E o fruto foi dilacerando em minha boca
a ausência da volúpia...
Pêra safada!

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Carta aos meus Anjos

Não sou de escrever prefácios, mas queria dedicar
previamente esse texto a Aaron Shafehaiss, Gabi Cori, João Victor,
Tonho Lira e Vinicius Cardoso. E dizer que, apesar de não postar prosas ou
cartas, abro uma exceção por um apego sentimental a esta. Sei que apegos
sentimentais podem ser ótimos flageladores de textos, mas abstraio nesse
instante e por esses anjos. É uma homenagem.


.......Os deuses têm sido intrigantes. Cada vez que estou a passo de esquecer suas belezas, eles inventam alguém para chegar perto. Alguém que não reclama, não briga. Alguém que simplesmente é; e que justo (e suficientemente) por SER faz notar o que é luz e o que é paz. Alguém que é deus [por me fazer estar perto do divino].
.......Tenho conhecido desses anjos que os deuses mimetizam de borboletas. Esses anjos soltos nos ventos, que vêm um dia, e logo correm para outras flores.
.......Acho que os deuses estão tentando me ensinar o amor. Esse tanto de leveza e liberdade. Essa pureza que exclui qualquer possibilidade de egoísmo. Porque não é justo que os anjos sejam de um só. [Não é da natureza da borboleta ter sua vida destinada a uma única flor]. Tem mais gente, como eu, que precisa deles. Então os deuses me emprestam os anjos... que depois vão embora... e eu fico da janela pensando neles. Ao invés de protestar, fico venerando, com aquela pureza que o amor ensina, aquela liberdade e as sementes que me deixam.
.......“Vai!” Digo baixinho, sorrindo, quando algum se despede. Eu tentando ser um anjo por breves instantes para que eles não carreguem consigo nenhuma de minhas limitações de gente.
.......Vou aprendendo aos poucos a maturidade do verdadeiro amor. Já que cada anjo tem dos deuses justo o amor e a maturidade que carregam.
.......E vou cuidando das sementes que me plantam, e tudo brota.
.......Os deuses fazem questão de cuidar do amor dos anjos. Chuva para não secar, sol para não inundar. E como borboletas, os anjos vêm festejar cada um dos meus brotos que eles mesmos semearam.
.......E é aí que os deuses me intrigam:


nem sempre eles avisam que a língua dos anjos é outra. Despedidas não são adeuses, e o tempo é quem mostra como os anjos são jardineiros fiéis.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Sobre a Solidão

Por dentro a paisagem, como um quadro: inerte.
Nem um vento sopra – nem um vento...
...quem diria.
Pássaros estatuados fixos
e nenhuma cantoria.
Nenhum vôo continuado.
Só silêncio.
Uma quietude exacerbada.
Quase morte.
[Do movimento, da vida, do circuito.]
Que é a vida se não deslocamento?
No entanto, nem um vento,
nem unzinho, sequer...
Nem uma brisa raquítica
denunciando alteração nas moléculas do ar.
Nem um pé de vento, nem um pé.
Apenas o sólido lugar.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Sobre o Amor

Construção, tudo é construção.
Creio.
[Oscilação entre septo e vão
no desejar.
Intermitência: a entrega, o receio].

Mas é construção [sim!],
creio.
Não o fim, não,
essa coisa de amar...
Justo o meio!

Sobre a Intermitência

...enidadeperenidadeperenidadeperenidadeperenidadeperenidadeperenidadeperenidadeperenidadeperenidadeperenidadeperenidadeperenidadeperenidadeperenidadeperenidadeperenidadeperenidadeperenidadeperenidadeperenidadeperenidadeperenidadeperenidadeperenidade...

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Soneto do Mal-Assombro

Eu temia teu vazio em minha essência.
Tua partida a tornar o olhar escuro.
E julgava sepulcral a tua ausência
antes mesmo de me pores neste apuro.

Mas a tua covardia mais gritava:
nem amavas, nem mandavas que eu me fosse.
E o amor que viveria defuntava
em teu descuido sombrio, descaso doce.

Até que em mim tu mataste nosso amor
[te suicidasse enfim com tua partida].
E eu que achava que cultivaria dor

recebi a tua morte e fiquei pasma:
acendi velas a ti, eu destemida
e foste tu quem temeste meu fantasma!

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Soneto da Infidelidade

Observa. Eu te amo por ter te traído.
Por não sermos felizes nem sermos iguais.
Por pena de ti, e saber não ter havido
a fidelidade. Dívida, nada mais.

Amo-te pelo meu auto-perdão, enfim,
de [minha] tal imoralidade egoísta.
Aqui ainda egoísmo: amor a mim.
Querer cruel e infiel e narcisista.

É amor por circunstância, é compaixão.
Amor sem escrúpulos. Elo decadente.
Servo da possibilidade de perdão.

Amor de livramento. Busca a solidão
em paz. Interesse próprio. Esteja crente:
se pensas que há dignidade, ilusão!

domingo, 25 de janeiro de 2009

Divagando sobre sonhos

(Carta a um Transeunte do Sul)

Eu não posso saber de que forma o mundo funciona. Não consigo.

Quando eu deito e durmo, certas noites eu sonho porque minha alma vaga pelo mundo que está afora de mim. Noutras, sonho porque ela passeia pelo mundo que sou.

Acredito que alguns sonhos são encontros espirituais.
Outros são simples reflexos meus, quando me permito compreender melhor o que sou.

O que sei é que às vezes eu tento me burlar e me concentro em algo especial, para ver se minha viagem onírica permeia os mundos que desejo e nem sempre alcanço.

Tanto, que ao final termino confundindo o que criei acordada com o que vivi dormindo.

Ou, de tanto tentar, algumas noites passo sem sonhos.
Como se eu sabotasse a fraude que armo contra mim mesma.
E findo numa noite vazia, enquanto os olhos estão cerrados.

Com tudo isso, eu não posso saber de que forma o mundo funciona.
Mas consigo sentir que ele é mágico.

Aí pergunto se há discrepância entre o que se vive dormindo e o que se vive acordado.
E quantos encontros não tive enquanto dormia; nessas noites vazias que meu corpo é pequeno demais para lembrar o que houve.

Em alguns momentos eu creio que foi minha alma que arrumou um meio de me trazer a pessoa de luz que você é, enquanto eu permanecia desacordada.

E me questiono se, depois que te conheci, corpo, ela foi te visitar novamente.
Porque consigo guardar, com detalhes, a essência de sua forma de mexer quando sorriu ao meu lado.
E do brilho infantil dos olhos que me deste, por breve tempo.

Sabe-se lá quantos seres de luz e paz há espalhados por aí.
Mas é impossível não desejar reencontros com os já achados; ou não dedicar uns minutos – noites alternadas em ritmos mil – àquela concentração. Como quem quisesse convencer a alma para que lado andar quando estiver solta.

Mas quando ela está solta, ela está solta. [E essa é uma redundância necessária.]

Ainda não posso mandar na minha alma enquanto durmo.

Minha criatividade infantil, desamarrada, me faz ver minha alma chegando onde estiver a sua, só para gerar uma luz maior. Não para absorver, mas para estabelecer um contato que faça ambas se tornarem mais claras.

Eu não posso ter certeza das minhas crenças e sonhos.
E toda essa divagação sobre almas e corpos – como se pudéssemos os dividir – termina sendo apenas poética. Ou acolhedora. Uma forma de conforto.

Então, como ainda sou um corpo, te componho um texto palpável, com o que sou, faço, penso... Para assegurar que nossa existência é real, e concomitante.

Para alcançar você de alguma forma, num tempo que não seja só memória.