Todo dia vem o sol:
Traz cor, luz e calor
Se une ao rouxinol
com seu mundo de amor!
De mansinho vem surgindo
Se apossa do lugar
E, aos poucos, colorindo
Consegue o mundo alegrar!
Sereno e sensato
Mostra um lado ardente à vida
Ágil como o pulo do gato
Seguro quão uma boca rida
Porém, todo ano tem inverno
E o sol teima em escapar
Entre nuvens e pingos
Que o céu insiste em porejar!
Aqui então fica assim:
Molhado, escuro, sem luz
Vem a chuva, cai em mim
Deslumbra, fascina, seduz!
E nessa penumbra
Vem o sonho se instalar.
E já que o sol deixa umbra
Vou para o escuro dançar.
Cada frio pingo a derramar
Arrepia meu corpo fino
Quero ouvir a chuva falar
Me cantar o mais belo hino
Desejo águas a me molhar
Dia inteiro, todo tempo
Roçando-me num olhar
Indo além de um só momento
Mas sempre passam as chuvas
E me deixam a soluçar
Penso, então, nas doces uvas
Que o sol poderia me dar
Mas o sol se enciumou
Quando assim me encharquei
“Não te quero”, anunciou
“cuida-te, ou te abandonarei”!
Aspiro sol e chuva
a desenhar no ar: cores
deixando minha mente turva.
Plantas, flores, amores!
Que fazer, então, meu deus
Com dois mundos paralelos?
Que mexem nos carinhos meus
Um par de genes: alelos!
texto de 2003
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