sexta-feira, 19 de julho de 2019

A influência do ar


Um pedaço de mim hiberna
quando um tanto fica acordado.
Aí vem o vento imprevisto
soprando tudo o que existo
e remexe o que está parado.

Há momentos com a tendência
de assentar toda a poeira.
Mas do nada vem o tal vento
bem quando se está desatento
e bagunça a casa inteira.

E é quando todo o pó avoa
que atento a tudo o que guardo:
tanto ao que quieto dormia
e calado bem se escondia
quanto ao que estava acordado.

Vem a alegria e o deslumbre
com esse vento refrescante;
o se refazer e o rever
cada belo pedaço de ser
dessa vida que não é estanque!

Mas é bem nesse movimento
que o vento vem demonstrar
que na sombra empoeirada
também há cicatrizes passadas
e umas dores a latejar.

E entre a dor e o prazer
me surge esse interrogar:
do soprar completo, o todo,
ao deixar decantar o repouso,
o que devo alimentar?

Pois em mim mora algo insano,
que é ter pelo vento amor;
por ele expor por inteiro
desde a sombra ao mais luzeiro
aquilo tudo o que eu sou.

E disso desperta o desejo
de, perene, se ventilar.
Viver soprando a poeira,
e revirando a casa inteira
nesse eterno transformar.

Porém é em tempos sem vento
que algo me faz relembrar
que a terra e a gravidade
produz do meu caos sanidade
e eu posso me reordenar.

E no silêncio e na pausa
eu me ponho a perguntar:
não soa um pouco imprudente
viver com inacabável-sempre
nessa influência do ar?

2 comentários:

Gabriela Cardoso disse...

Eu daqui ao ler, senti o vento bater
Essa brisa forte e fria movimentou tudo que em mim dormia.

manu moema disse...

Eu posso ver e sentir a tua brisa, nesse momento!
Obrigada por compartilhar tua impressão..